“Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”
Luís Fernando Veríssimo

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Brasil vive grave crise democrática, diz ONG alemã

O clima político é cada vez mais determinado pelo conservadorismo, e a atuação política dos cidadãos é reprimida, muitas vezes com violência, pelas autoridades, afirma a Brot für die Welt.
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Policiais disparam contra manifestantes reunidos em Brasília para protestar contra o governo, em maio de 2017
Um novo índice divulgado nesta quarta-feira (31/01) colocou o Brasil entre os países onde a atuação da sociedade civil e o exercício das liberdades individuais – como os direitos de se manifestar ou de expressar sua opinião – é apenas "limitado". A escala tem cinco níveis e vai de "livre" a "fechado".
Elaborado pela ONG Brot für die Welt, ligada à Igreja Evangélica da Alemanha (EKD), o Atlas das Sociedades Civis destaca que, "desde o controverso processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em agosto de 2016, esse país do G20, a nona maior economia do mundo, vive uma grave crise democrática".
Segundo o relatório, "a participação ativa na política, por meio de movimentos sociais, dá cada vez mais lugar à criminalização de ativistas. O clima político é cada vez mais determinado por um conservadorismo religioso" que desrespeita os direitos de mulheres e homossexuais, "elevando as tensões e as diferenças sociais".
Em protestos contra o governo, a violência aumenta cada vez mais, afirma o relatório. "Unidades especiais agem com gás lacrimogêneo, granadas de luz e som, balas de borracha e, em parte, munição letal contra os manifestantes", o que, segundo o relatório, frequentemente resulta em pessoas feridas e até mesmo mortes.
O Brasil aparece no índice ao lado de outros 52 países onde a livre expressão das liberdades individuais é "limitada pelos governantes por meio de uma combinação de limitações legais e práticas". Outros países da lista são Índia, Indonésia, Moçambique, Haiti e Israel.
Karte Schrumpfender Spielraum für Zivilgesellschaft POR
Em todo o mundo
Atlas das Sociedades Civis apresenta uma situação sombria para a atuação da sociedade civil e o exercício das liberdades individuais em todo o mundo e destaca que apenas 2% da população mundial vive em sociedades onde é possível se expressar e atuar politicamente de forma completamente livre.
Essa população soma 148 milhões de pessoas e vive em 22 países, a maioria europeus. Entre eles estão a Alemanha, as nações escandinavas, a Suíça e Portugal. Neles, os cidadãos podem, "sem barreiras legais ou práticas, criar associações, fazer demonstrações em praça pública e obter e difundir informações".
Os autores destacam que há uma relação direta entre liberdades civis e o desenvolvimento de uma sociedade. "Quando se exerce pressão sobre a população surgem conflitos, e isso impede o desenvolvimento", afirmou a diretora de Direitos Humanos da Brot für die Welt, Julia Duchrow, durante a apresentação do estudo, em Berlim. Segundo ela, melhores condições de vida dependem, portanto, do livre exercício das liberdades civis.
Seis países foram analisados em detalhes: além do Brasil, são eles Quênia, Chade, Honduras, Filipinas e Azerbaijão. "Todos têm em comum que as sociedades civis são cada vez mais reprimidas", afirmou Duchrow. Ela citou como exemplos o uso desproporcional de violência policial contra manifestantes e a promulgação de leis que restringem a influência da sociedade civil.
Em todo o mundo, a tendência aponta para os regimes autoritários, e, em muitos países, déspotas têm até mesmo o apoio de parte da população, diz o relatório. Um exemplo são as Filipinas, onde o presidente Rodrigo Duterte conta com a simpatia de muitos cidadãos. "Infelizmente, tendências nacionalistas estão em alta neste momento", diz Duchrow.
http://www.dw.com/pt-br/brasil-vive-grave-crise-democr%C3%A1tica-diz-ong-alem%C3%A3/a-42390836

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

CONSUMO DE ÁLCOOL. ESTUDO REVELA COMO ELE ATINGE O DNA E AUMENTA O RISCO DE CÂNCER


Uma equipe de cientistas do Reino Unido investigou uma das íntimas ligações entre o álcool e o câncer através da análise do DNA em células estaminais (células-tronco). Nas experiências feitas com ratos, os cientistas recorreram à administração de etanol nos animais e concluíram que a exposição ao álcool provoca danos genéticos permanentes. O estudo, que conta com a participação de uma cientista portuguesa, é publicado na edição desta semana da revista Nature.


Por: Equipe Saúde 247

“Alguns tipos de câncer surgem quando existem danos no DNA em células estaminais (células-tronco). Sabemos que alguns destes problemas ocorrem por acaso, mas os resultados do nosso estudo sugerem que beber álcool pode aumentar o risco desses estragos”, refere Ketan Patel, cientista do Laboratório de Biologia Molecular do Conselho de Investigação Médica do Reino Unido, em Cambridge, num comunicado da instituição Cancer Research UK que financiou parte do estudo. Sandra Louzada, investigadora portuguesa no Instituto Wellcome Trust Sanger, é especialista em genética molecular e uma das cientistas que assina o artigo. Ao contrário da maioria dos estudos que são feitos em culturas de células para observar os efeitos do álcool na nossa saúde, desta vez os cientistas administraram etanol a ratinhos para observar in vivo o impacto deste consumo no DNA dos animais.
Os animais foram expostos a um “tratamento agudo” com uma dose total de 5,8 gramas de etanol por quilo, dividida em duas injecções, e também a um “tratamento crônico” que consistiu na mistura de etanol diluído na água dos ratinhos durante vários dias. As atenções estiveram sobretudo viradas para o acetaldeído, o químico que é produzido pelo organismo quando o álcool é processado. Ketan Patel resume os resultados da investigação: “O álcool é processado pelo organismo através de uma toxina chamada acetaldeído, isso prejudica o DNA das células estaminais causando mudanças permanentes no genoma. Uma vez que uma célula estaminal faz muitas descendentes (células filhas), isso faz com que um genoma de células estaminais com defeito seja passado para muitas células.”

PÚBLICO -
 
O pesquisador Ketan Patel

Uma garrafa de whisky
Sobre as generosas quantidades de álcool servidas aos ratinhos, o cientista esclarece na resposta por email que “a maioria das experiências usou uma única e grande dose de etanol que é equivalente a colocar um ser humano a beber uma garrafa de whisky de 750 mililitros de uma só vez!” Tendo em conta o que observaram em laboratório, Ketan Patel considera que estes testes demonstraram “que os ratinhos lidaram e processam o álcool de forma muito eficaz e que não são muito afetados por isso, mostrando estar 15 minutos bêbados e perfeitamente bem passados 30 minutos”. Mas é evidente que os efeitos do consumo de álcool podem ir muito além de uma simples ressaca passageira.
Para a maioria das pessoas, o acetaldeído é um subproduto transitório do álcool que é “resolvido” (transformado em energia) por uma família de enzimas (ALDH) que, assim, funciona como um mecanismo de defesa. No estudo, os investigadores identificaram um dos membros desta família (a ALDH2) que terá um papel decisivo neste processo. Segundo concluíram, quando esta enzima não estava presente nos ratinhos que tinham sido “embriagados” os danos no ADN quadruplicavam, quando comparados com os animais com esta enzima funcionando normalmente.
Os autores do estudo sublinham no artigo que existem cerca de 540 milhões de pessoas na Ásia que carregam uma mutação no gene ALDH2, o que significa que não conseguem lidar com o acetaldeído. Sabe-se que as pessoas que têm esta mutação enfrentam um risco aumentado em desenvolver cancro esofágico se consumirem álcool. No entanto, o artigo agora publicado na Nature sugere que estes indivíduos também podem ser mais susceptíveis a outros distúrbios sanguíneos induzidos pelo álcool.
“O nosso estudo realça que não ser capaz de processar o álcool de forma eficaz pode levar a um risco ainda maior de danos no ADN relacionados com álcool e, portanto, a um risco aumentado de alguns tipos de câncer. Mas é importante lembrar que a eliminação do álcool e os sistemas de reparação do ADN não são perfeitos e que o consumo de álcool pode causar câncer de outras maneiras, mesmo em pessoas que têm estes mecanismos de defesa intactos”, refere Ketan Patel no comunicado.
Próximo passo? “O trabalho foi feito processando células estaminais do sangue porque são fáceis de estudar e analisar. Queremos saber se outras células estaminais são afetadas de forma semelhante – particularmente as que estão em tecidos onde sabemos que o câncer se desenvolve após a exposição ao álcool (boca, fígado e mama)”, adianta o investigador. Vários estudos sobre a perigosa relação entre o álcool e o câncer já demonstraram que este consumo (mesmo que seja leve ou moderado) está associado de forma clara a, pelo menos, sete tipos de câncer (faringe, laringe, esôfago, fígado, cólon, reto e mama). A Organização Mundial da Saúde coloca o álcool no grupo dos agentes cancerígenos, apoiando-se em "provas convincentes" que causa câncer em humanos.
Ketan Patel nota que o artigo publicado agora não investigou a quantidade de álcool necessária para se observar danos no DNA, mas antes “como é que o álcool pode causar danos”. “O trabalho também mostra que os seres humanos possuem um robusto mecanismo de proteção contra o álcool, conclui. “Dito isto, é provável que o "binge drinking" (consumo rápido de grandes quantidades de álcool) ultrapasse essas defesas e que os efeitos cumulativos de longo prazo também sejam importantes, já que os humanos agora vivem muito mais anos. Talvez os danos acumulados no DNA possam comprometer o bem-estar na velhice.
https://www.brasil247.com/pt/saude247/saude247/335483/Consumo-de-%C3%A1lcool-Estudo-revela-como-ele-atinge-o-DNA-e-aumenta-o-risco-de-c%C3%A2ncer.htm