“Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”
Luís Fernando Veríssimo

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Folhosos

Mágoa, muita mágoa
O carnaval em São Lourenço já seria reconfortante em si, mas tornou-se simplesmente memorável por dois motivos: 1. A hilariante desclassificação do framengo, diante do Resende, em pleno Maracanã, no sábado; e 2. Os doridos minieditoriais da página 2 da Folha de segunda, assinados por dois Fernandos - o de Barros Silva e o Rodrigues. Do primeiro motivo de gáudio, é ocioso falar, mas o segundo merece um pequeno comentário. Como Noblat (post "à beira de um ataque", pouco abaixo), os Fernandos também estão que é um pote até aqui de mágoa. O motivo maior, claro, são os 84% de aprovação popular do Nove-Dedos, mas também há algo mais amplo - uma espécie de desencanto com a espécie humana, capaz de fazer com que Serra faça o possível para não ser oposição, a crise não atingir o Brasil com a força necessária para destruir o N-D e o Obama pensar em estatizar bancos nos EUA. Os textos dos folhosos foram tão sofridos, mas tão sofridos, que quase me fizeram ficar com pena deles. Mas só quase.
Daqui http://www.coleguinhas.jor.br/picadinho.html

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O tempo e as jabuticabas

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.
Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio. Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que, apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de "confrontação", onde "tiramos fatos a limpo". Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos". Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado de Deus. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.
O essencial faz a vida valer a pena.
Daqui http://linguadetrapo.blogspot.com/