“Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”
Luís Fernando Veríssimo

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A ditadura Lula




Esta senhora aí é uma figuraça. Reparem na expressão mesclando angústia e preocupação. Não deve ser fácil a vida de uma poderosa médium, leitora do pensamento alheio. Em sua coluna de hoje, Kramer afirma que conseguiu devassar as "profundas da alma" de Lula e o que viu lá não era bonito. A jornalista nos alerta que, por trás do rostinho carismático do "cara", oculta-se um Stálin, um Hitler, um Chávez!

O presidente Lula não se segura. De vez em quando externa o que lhe vai às profundas da alma, coisas que jamais esquece: a derrota da CPMF e a impossibilidade de ter aprovada a chance de alcançar um terceiro mandato sem traumas institucionais.

O problema com o imposto do cheque não é o dinheiro. Isso não faz falta ao governo. Lula não se conforma é com a derrota política que o fez perceber a impossibilidade de aprovar a emenda do terceiro mandato no Senado.

Para a colunista, nas "profundas da alma", Lula é um chavista de terceira categoria, integrando o eixo do mal formado pelos governantes inimigos da mídia do continente.

Os caminhos são diferentes, mas o objetivo dos governos da Venezuela, da Argentina e do Brasil é o mesmo: tutelar a sociedade e assegurar trânsito livre de críticas aos respectivos projetos de poder, por intermédio do controle da informação.

O governo Lula ensaia, recua e insiste em manietar a imprensa por meio de instâncias colegiadas e sugestões corporativas. Os Kirchner alteram as leis para prejudicar os grandes grupos de comunicação.

Chávez é explícito. Hoje prende e arrebenta, mas nem sempre foi assim, embora caminhe nesse sentido desde o início. Os fascinados por "governos do povo" - os bem-intencionados, não os vendidos - é que não percebem o andar da carruagem do autoritarismo.

Só se dão conta e protestam quando suas vozes já não podem mais ser ouvidas.

O único discurso que sobrou para a oposição é vender a idéia de que Lula e Dilma são chavistas satânicos e que o Brasil é uma ditadura iraniana.

O trecho citado acima vem depois de uma crítica feroz e exagerada a uma lei que restringe o humor em período eleitoral:

Não é (só) a liberdade dos humoristas que está sendo violada com as proibições impostas pela Lei Eleitoral. São as garantias de toda a sociedade, além da Constituição como fiadora da liberdade de expressão.

Ela associa, desta forma, a lei anti-humor a Lula, quando na verdade ela foi assinada por Marco Maciel
, presidente em exercício durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso, em 1997.

A alquimia, portanto, continua a todo vapor. FHC muda a Constituição sem fazer plebiscito - para que saber a opinião da massa não-cheirosa? - com vistas a inventar a reeleição para si mesmo e Lula é o "chavista" e o PT é o "PRI".

Observação importante: ali havia, aí sim, interesse claro em comprar o voto de parlamentares. Dois parlamentares confessaram que venderam seus votos.

O verdadeiro mensalão foi a reeleição de FHC. Com um agravante: ele segurou o câmbio artificialmente para não perder votos, fazendo o Brasil perder bilhões de dólares. O que escandaliza a mídia, no entanto, é a tapioca que o ministro dos Esportes comprou numa lanchonete de Brasília.

O governo FHC veta o humor em campanha eleitoral, também para blindar sua imagem e facilitar a sua reeleição, e o PT é que é o adversário da liberdade de expressão.

FHC (e portanto Serra) é o verdadeiro "Chávez" - entendendo aqui, naturalmente, o que a mídia pensa do presidente venezuelano, não o Chávez real.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

COMO VOTAR NAS ELEIÇÕES 2010 - SIMULAÇÃO DE VOTAÇÃO - 1º TURNO


Veja eleitor como você pode votar em 2 senadores

A divulgação é uma oportunidade dos eleitores tirarem dúvidas e simularem a votação em urnas eletrônicas.

Mesmo com o início da propaganda gratuita no rádio e na televisão, a maior parte dos eleitores ainda não sabe que poderá votar em dois candidatos ao Senado.Essa foi a principal dúvida esclarecida a eleitores na manhã de sábado passado no Clube do Sesi, no estande do TRE/MS (Tribunal Regional Eleitoral), montado no bairro Santa Luzia, em Campo Grande.
De acordo com o chefe de cartório da 35ª Zona Eleitoral, Cassius Frederico, 80% dos eleitores que compareceram à divulgação da ordem de votação da urna não sabiam que podiam escolher dois candidatos ao Senado.
“Eles acham que só vai ser eleito um senador. Alguns até sabem que serão eleitos dois, mas acreditam cada eleitor só poderá votar em um deles”, conta.
A divulgação é uma oportunidade dos eleitores tirarem dúvidas e simularem a votação em urnas eletrônicas.
No dia 3 de outubro, cada eleitor irá votar seis vezes. O primeiro voto é para deputado estadual. Depois vem o voto para deputado federal e os dois para senador. Os últimos são para governador e presidente. (Fonte: CG News).

Simulação de votação na Urna Eletrônica

Após ter lido atenciosamente as instruções de como votar, faça uma simulação de votação na urna eletrônica.

ELEIÇÕES 2010 - SIMULAÇÃO DE VOTAÇÃO - 1º TURNO

:: Como Votar

Usando o teclado da urna, que é similar ao do telefone, digite o número do candidato de sua preferência.
Na tela, aparecerão a foto, o número, o nome e a sigla do partido do candidato.
Se as informações estiverem corretas, aperte a tecla verde CONFIRMA.
A cada voto confirmado, a urna emitirá um rápido sinal sonoro.
Após o registro do voto para presidente, a urna emitirá um sinal sonoro mais intenso e prolongado e aparecerá na tela a palavra FIM.

:: Como corrigir o voto

Se não aparecerem na tela todas as informações sobre o candidato escolhido, aperte a tecla laranja CORRIGE e repita o procedimento anterior.

:: Como votar no partido (voto de legenda)

Caso você queira votar na legenda, digite o número do partido, que corresponde aos dois primeiros algarismos do número do candidato e confirme o seu voto apertando a tecla verde CONFIRMA.
O voto na legenda só será possível em relação aos cargos de deputado federal e deputado estadual/distrital.

:: Como votar em branco

Para votar em branco, aperte a tecla BRANCO.
Confirme o seu voto apertando a tecla verde CONFIRMA.
Cuidado! Seu voto poderá ser nulo se você digitar um número de candidato ou de partido inexistentes e depois apertar a tecla  verdeCONFIRMA.

:: Simulação de votação na Urna Eletrônica

Após ter lido atenciosamente as instruções de como votar, faça uma simulação de votação na urna eletrônica.

DoLaDoDeLá: Pelo Pescoço

DoLaDoDeLá: Pelo Pescoço: "O que ficou claro, desde o fim de 2006, é que os blogs progressistas, apelidados recentemente de 'blogs sujos', pendurariam a grande imprens..."

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A vingança do grande fodão Luiz Inácio

Luis Inácio deve estar saboreando cada segundo da mais completa rendição de José Serra, do PSDB e da mídia àquele que mais odeiam, ele mesmo, um pernambucano que, na idade adulta, converteu-se em Lula, de longe o presidente da República mais popular da história do Brasil.
Os supracitados adversários políticos de Luiz Inácio passaram décadas insultando esse homem de todas as formas. Chamaram-no de ladrão (mensalão), de beberrão (Larry Rohter), de apedeuta (Esgoto da Veja), de anta (Diogo Mainardi), de assassino (Folha no desastre da TAM), de estuprador (Folha e o “menino do MEP”)…
Uma geração inteira cresceu lendo e escutando Luiz Inácio ser insultado de todas as formas e acusado de tudo o que se possa imaginar.
Depois de Collor, em 1989, e de FHC, em 1994, em 2002 José Serra “ascendeu” ao posto máximo da direita contemporânea, o de “anti-Lula”. Desde então, não desceu mais do pódio. Esteve por trás de todos os ataques mais virulentos feitos ao presidente da República durante os últimos sete anos e tanto.
As relações do tucano com os agressores mais contundentes do primeiro mandatário da República são tão conhecidas que é possível achar até fotos dele na internet abraçado a alguns.
Durante a maior parte da década de 1990 até início dos anos 2000, Luis Inácio sempre foi comparado com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, intelectual de renome internacional que o derrotou em duas eleições seguidas. A superioridade de FHC sobre ele foi cantada em verso e prosa até o limite do insuportável nos discursos tucano-midiáticos.
Luiz Inácio e seu povo chegam a 2010 com motivos para dar boas gargalhadas. Os que insultaram o mais eminente político petista durante décadas e que o preteriram tantas vezes em favor de FHC, hoje têm que homenagear o antigo desafeto em seus programas eleitorais e que esconder o antigo favorito.
A vingança de Luiz Inácio não poderia ser mais doce.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A TURMA DA KOMBI FAZ A HORA

Um texto de Lula Miranda sobre o surgimento

da blogosfera política no Brasil


por Lula Miranda* (Via Escrevinhador e Carta Maior.)

A comunicação no Brasil está mudando. Graças à internet. O Brasil está mudando. Graças ao bafejar dos ventos mudancistas soprados por uns tais “militantes da utopia”, por aqueles que combatem, desde sempre, seja enfrentando a sordidez da real política seja militando na blogosfera, por uma democracia plena.
O texto que segue versa sobre o poder da internet [mais precisamente da chamada “blogosfera”] na modificação do paradigma da comunicação e da mídia no país, e, como conseqüência ou instância última, na transformação da sociedade. É um “corte”. Apesar de longo [peço-lhe desculpas de antemão por ser demasiado prolixo] esse artigo é um pequeno-grande capítulo dessa história. O título, para aqueles que ainda não perceberam, alude a certa frase de um certo ex-presidente da Suprema Corte do país, e também àquela antiga canção de protesto “Para não dizer que não falei de flores” mais conhecida como “Caminhando e Cantando”. A alusão a essa canção, por sua vez, pretende remeter àqueles tempos em que alguns jovens “idealistas” sonhavam mudar o Brasil. A tal “turma da Kombi” seria, na visão dos “reacionários”, o povo da blogosfera que, agora, “faz a hora, não espera acontecer”.

A comunicação no Brasil está mudando. Graças à internet. O Brasil está mudando. Graças ao bafejar dos ventos mudancistas soprados por uns tais “militantes da utopia”, por aqueles que desejam e combatem, desde sempre, seja enfrentando a sordidez da real política seja navegando/militando na blogosfera, por uma democracia plena e, mais ainda, desejosos que este país seja, de fato, um país de/para todos os brasileiros.

[Contextualizando: a atmosfera que se respirava na época ou a “ambiência”. Vivia-se a retomada da anima esquerdista, incorporava-se o espírito das reuniões do Fórum Social Mundial que nos ensinava que “um outro mundo era possível”. Se um outro mundo era possível, então uma nova comunicação também era possível e, mais que isso, necessária. Diversas reuniões e conferências sobre comunicação “pipocavam” por todo o país]

Os blogs, no começo utilizados por alguns como uma espécie de singelo diário eletrônico ou virtual, evoluiu, amadureceu bastante [mas ainda não o suficiente] e se transformou, nos dias que correm, em vital instrumento de comunicação e combate aos humores do “mercadismo” e à grande mídia oligopolista, que, sabemos, era pretensa detentora do monopólio da verdade. Ou seja: a versão deles dos fatos [e da história] era a que prevalecia, posto que apenas veiculava-se essa versão “única”, apenas essa única maneira de ver o mundo tinha espaço. Hoje, não mais. Graças ao poder da participação do cidadão. Graças à força da cidadania.

“Cidadania.com” era, a propósito, o nome de um desses blogs precursores. Pilotado por um comerciante, um cidadão comum que, inconformado com as manipulações e inverdades publicadas diuturnamente pelos grandes jornais, resolvera ir à luta e “botar a boca no trombone”. Esse homem comum foi, decerto, a princípio, utilizado/manietado como um “inocente útil” pelos colunistas e editores desses “jornalões”. Mas, quando passou obstinadamente a buscar “a verdade”, tal qual um Quixote redivivo, foi logo descartado e rotulado de “louco” por esses mesmos colunistas e editores que antes lhe davam guarida e paparicavam. O espírito ali já se revelava outro: o homem comum, o leitor, buscava participar da tessitura da realidade, da notícia. Quem sabe faz a hora. O homem ordinário desejava ser extraordinário.

Eduardo Guimarães [este é o nome desse personagem], talvez após constatar que a solução para aquele problema que lhe incomodava deveras [e a muitos como ele] não passava somente pelo estratagema, digamos, bem intencionado, mas talvez ingênuo, de melhorar o jornalismo praticado pelos grandes veículos/grupos de comunicação utilizando-se tão-somente de esporádicas manifestações nos espaços dedicados aos leitores, teve então a idéia de criar um movimento agrupando aqueles que, como ele, se sentiam sem vez e voz, incomodados com o “duplipensar” e a “novilíngua” daquela imprensa que, desde sempre – agora, enfim, ele comprovara – esteve a serviço dos chamados “donos do poder”. Guimarães [e muitos com ele] naquele instante apreendeu a lição. Nascia então o MSM – Movimento dos Sem Mídia.

E foi exatamente esse mesmo MSM que, a despeito das suas fragilidades e insuficiências, dentre as várias ações que realizou, empreendeu uma que marcou, de modo indelével, definitivo a história dessas eleições de 2010. O movimento, agora uma ONG, entrou com uma representação na Procuradoria Geral Eleitoral (PGE) ajuizando a abertura de um processo em que solicita auditoria, fiscalização e acompanhamento das pesquisas realizadas por todos os institutos, pois havia fortes indícios de manipulação nessas sondagens [as principais suspeitas recaíam sobre DataFolha e Ibope]. O inquérito foi aberto e o processo instaurado (Nº 4559.2010-33). A Polícia Federal está investigando. Daí em diante, as empresas de pesquisas, e também o PIG, colocaram as barbas de molho. Não dava mais para mexer nos dados, dar uns 10 ou 12 pontos de vantagem ao candidato da oposição de direita e dizer-lhe: “Vai que a gente garante!”. Esse “empurrãozinho” fraudulento o conduziria direto ao abismo.

Porém, nessa breve história que lhes conto aqui existem outros, vários protagonistas e precursores. E é essa exatamente a principal característica da “blogosfera”: o chamado “protagonismo cidadão”. Leitores e articulistas-militantes se envolvem numa quase-perfeita sintonia. As notícias e opiniões são comentadas e, muitas vezes, contestadas em tempo real. Os comentários postados são, algumas das vezes, mais ricos e esclarecedores que os próprios artigos ou “posts” originais. Os leitores são agentes ativos do debate nacional, não mais passivos.

Para assomo de alguns “puristas”, alguns jornalistas egressos da grande mídia também se engajaram nessa intrincada, árdua e aparentemente inglória tarefa de construir e trilhar os caminhos de uma nova comunicação. Antes, você deve se lembrar, esse mister, esse ofício era atribuído à chamada imprensa alternativa. Surgem, porém, nomes de “celebridades” proscritas da grande mídia como “o impagável” Paulo Henrique Amorim e “o mineiríssimo” Luis Nassif, bem como nomes mais ou menos célebres como Luiz Carlos Azenha e Rodrigo Vianna, dentre outros.

Nassif tatuou a ferro e fogo seu nome nessa história quando publicou em seu blog o “Dossiê Veja”, onde revela os bastidores sombrios e pútridos desse semanário e da grande imprensa em geral – em decorrência disso responde hoje a inúmeros processos com custos (ou seriam custas?) de difícil mensuração. Atravessou para o lado de cá e queimou as caravelas que poderiam conduzir-lhe de volta. Nassif comeu o pão que o diabo amassou. Hoje pilota uma das mais instigantes e competentes experiências em jornalismo colaborativo na blogosfera.

Paulo Henrique Amorim, com seu jeito bonachão e galhofeiro de “bom carioca” foi intrépido e arriscou: deu vez e voz ao valente e “ínclito” delegado Protógenes Queiroz em sua luta contra o “banqueiro bandido” [nas palavras deste último]. Bateu de frente com gigantes das telecomunicações e foi “saído” do portal IG. É dele a “tirada”: “O supremo presidente do Supremo, Gilmar Dantas – como diria o Noblat”. Paulo Henrique também responde a inúmeros processos na Justiça. É inegável a importante contribuição que esses “traidores” da grande imprensa, por assim dizer [com o auxílio da ferina ironia do destino], deram à causa desses aqui chamados “militantes da utopia” ou, como querem alguns, dessa “turma que não enche uma Kombi”.

A estes se somam, como disse, outros, vários, diversos personagens anônimos [já nem tão anônimos assim] e protagonistas nesse “levante” dos “utopistas”. Ouso citar alguns só para cometer o pecado de me esquecer de muitos.

São importantes personagens dessa nova comunicação veículos como Carta Maior, Caros Amigos [faço aqui uma referência e reverência ao saudoso Sergio de Souza], Revista Carta Capital, ConversaAfiada, Nassif OnLine, Vi o Mundo, Escrevinhador, Blog da Cidadania, Vermelho.org.br [e o blog do Miro], Revista Fórum [revista, site e blog capitaneado por Renato Rovai], Revista do Brasil [alô, alô, Paulo Donizette!], RS Urgente, Abunda Canalha, Amigos do Presidente Lula [alô, alô, Helena Stephanowitz!], Óleo do Diabo, Cloaca News, Tijolaço [blog do jovem e valente deputado Brizola Neto - como o nome “entrega”, neto do saudoso e valoroso Leonel Brizola].

Não tenho aqui a pretensão de contar toda essa grande história em toda sua magnitude e dimensão; de enumerar/citar todos os seus mais importantes feitos, fatos e personagens – pois são muitos os seus aguerridos combatentes. Tampouco tenho a pretensão de mostrar a melhor visão ou enfoque desse rico movimento, essa onda que hoje se levanta diante de nossas retinas já tão fatigadas cristalizando o tal “quem sabe faz a hora acontecer”.

Trata-se apenas, como disse, de um “corte”, um “primeiro capítulo” de uma obra em construção. Mais um olhar, mais uma palavra semeada que, característica inerente a essa nova comunicação libertária, soma-se à sua visão e palavra, prezado leitor-cidadão, e se espalha. Enredo que se enreda rede adentro, mundo afora, por intermédio da internet e da blogosfera.

Não mais a serviço de um único tutor ou “dono”, seja esse “dono” uma empresa, um “coroné”, um partido ou uma determinada oligarquia. Sempre a serviço da “causa”. Qual seja: uma comunicação revolucionária, democrática e um Brasil para todos.

* Lula Miranda é poeta e cronista. Foi um dos nomes da poesia marginal na Bahia na década de 1980. Publica artigos em veículos da chamada imprensa alternativa, tais como Carta Maior, Caros Amigos, Observatório da Imprensa, Fazendo Média e blogs de esquerda.



Daqui http://bit.ly/aeWHJL

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O escândalo Lula

Quem olhasse para o Brasil através da imprensa, não conseguiria entender a popularidade do Lula. Foi o que constatou o ex-presidente português Mario Soares, que a essa dicotomia soma a projeção internacional extraordinária do Lula e do Brasil no governo atual e não conseguia entender como a imprensa brasileira não reflete, nem essa imagem internacional, nem o formidável e inédito apoio interno do Lula.

Acontece que Lula não se subordinou ao que as elites tradicionais acreditavam reservar para ele: que fosse eternamente um opositor denuncista, sem capacidade de agregar, de fazer alianças, se construir uma força hegemônica no país. Ficaria ali, isolado, rejeitado, até mesmo como prova da existência de uma oposição – incapaz de deixar de sê-lo.

Quando Lula contornou isso, constituiu um arco de alianças majoritário e triunfou, lhe reservavam o fracasso: ataque especulativo, fuga de capitais, onda de reivindicações, descontrole inflacionário, que levasse a população a suplicar pela volta dos tucanos-pefelistas, enterrando definitivamente a esquerda no Brasil por vinte anos.

Lula contornou esse problema. Aí o medo era de que permanecesse muito tempo, se consolidasse. Reservaram-lhe então o papel de “presidente corrupto”, vitima de campanhas orquestradas pela mídia privada – como em 1964 -, a partir de movimentos como o “Cansei”. Ou o derrubariam por impeachment ou supunham que ele pudesse capitular, não se candidatando de novo, ou que fosse, sangrado pela oposição, ser derrotado nas eleições de 2006. Tinham lhe reservado o destino do presidente solitário no poder, isolado do povo, rejeitado pelos “formadores de opinião”, vitima de mais um desses movimentos que escolhem cores para exibir repudio a governos antidemocráticos e antipopulares.

Lula superou esses obstáculos, conquistou popularidade que nenhum governante tinha conseguido, o povo o apóia. Mas nenhum espaço da mídia expressa esse sentimento popular – o mais difundido no país. O povo não ouve discursos do Lula na televisão, nem no rádio, nem os pode ler nos jornais. Lula não pode falar ao povo, sem a intermediação da mídia privada, que escolhe o que deseja fazer chegar à população. Nunca publica um discurso integral do presidente da republica mais popular que o Brasil já teve. Ao contrário, se opõem frenética e sistematicamente a ele, conquistando e expressando os 3% da população que o rejeita, contra os 82% que o apóiam.

Talvez nada reflita melhor a distância e a contraposição entre os dois países que convivem, um ao lado do outro. Revela como, apesar da moderação do seu governo, sua imagem, sua trajetória, o que ele representa para o povo brasileiro, é algo inassimilável para as elites tradicionais. Essa mesma elite que tinha uma imensa e variada equipe de apologetas de Collor e de FHC, não tolera o fracasso deles e o sucesso nacional e internacional, político e de massas, de um imigrante nordestino, que perdeu um dedo na máquina, como torneiro mecânico, dirigente sindical e um Partido dos Trabalhadores, que não aceitou a capitulação ou a derrota.

Lula é o melhor fenômeno para entender o que é o Brasil hoje, em todas as posições da estrutura social, em todas as dimensões da nossa história. Quase se pode dizer: diga-me o que você acha do Lula e eu te direi quem és.
Postado por Emir Sader às 14:35
http://bit.ly/9dSoIy