“Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”
Luís Fernando Veríssimo

terça-feira, 28 de março de 2017

Mais armas aos cidadãos = mais crimes

Mais armas aos cidadãos = mais crimes

Este vídeo é dedicado a todos os que "armas aos cidadãos contra o Estado assassino!".

ATENÇÃO
O seguinte vídeo contém imagens que podem ferir a sensibilidade do espectador. 
Ficam avisados. Depois não venham com coisas do tipo "Epá, mas fez-me impressão, poderias ter avisado, não é?". Eu avisei. Se forem sensíveis não olhem. Ou olhem com uma mão na frente dos olhos.   


Este vídeo foi filmado pela polícia de Tulsa e mostra o momento em que uma rapariga de 21 anos foi atropelada e morta por um policia. Aconteceu depois dela abrir o fogo contra oficiais ao fim duma perseguição de alta velocidade.

Madison Sueann Dickson morreu em Tulsa, Oklahoma (EUA), depois que o oficial Jonathan Grafton a atingiu com o seu carro patrulha para impedir que disparasse contra a polícia. A Dickson era procurada pelas autoridades por causa de quatro incidentes relacionados com armas de fogo, sempre em Tulsa, durante a semana passada.

A polícia divulgou este vídeo na última Quinta-feira à tarde: é constituído por três vídeos que foram juntados. À primeira vista não fica claro o que a Dickson segura na mão direita até que o vídeo é abrandado e um círculo vermelho mostra a arma.

Quantos destes acidentes ocorreriam se as armas fossem dadas ao "povo"? Quantos polícias seriam mortos também? E os inocentes presos numa troca de tiros? Uma maior difusão de armas não traz benefício nenhum. Pelo contrário.

O caso Brasil

Olhamos para o caso do Brasil.
O País tem entre 16.800.000 e 17.600.000 armas de fogo na posse da população (não são contabilizadas aquelas da polícia ou do exército), das quais cerca de 9 milhões não registradas. Isso perfaz uma média de uma arma por cada 12 habitantes (dados arredondados) e coloca o Brasil na lista dos 40 Países com a mais alta quantidade de armas de fogo.

Segundo os apoiantes das "armas para todos", o País deveria ser um daqueles com menos crimes, porque os cidadãos podem defender-se (lembramos que os criminosos não costumam utilizar armas registradas e as armas ilegais no Brasil são cerca de 9 milhões).

Curiosamente, segundo Wikipedia, o Brasil está também na Top 40 dos Países com a mais alta taxa de homicídios intencionais. O que contradiz a equação "mais armas aos cidadãos = menos crimes". Na realidade, a equação é "mais armas aos cidadãos = mais crimes".

Top 40 dos Países com a mais alta taxa de homicídios intencionais.? Errado: Wikipedia utiliza dados de 2007. Vamos dar uma vista de olhos em análises mais recentes. Como relatado no Mapa da Violência 2016 de Julio Jacobo Waisel, o Brasil ocupa a 10ª posição global por taxa de homicídios por cada 100 mil habitantes.entre 100 Países.
E acrescenta o autor do estudo:
Podemos observar, na Tabela 10.1 [a publicada acima, ndt], que o Brasil, com sua taxa de 20,7 homicídios por arma de fogo por cada 100 mil habitantes, ocupa uma incômoda 10ª posição entre os 100 países analisados. Mais ainda, comparado com países tidos como civilizados, o Brasil apresenta taxa:
  • infinitamente superior à de muitos países que não registraram HAF [Homicídios por Armas de Fogo, ndt] no ano de referência, como Islândia, Japão, República da Coreia, Luxemburgo, Escócia, Inglaterra e Gales, etc.
  • 207 vezes maior que a de países como Polônia, Alemanha, Áustria, Espanha, Dinamarca, dentre outros, que registram 0,1 HAF por 100 mil
  • 103 vezes maior que a de Suécia, Noruega, França, Egito ou Cuba, dentre vários outros países com taxas em torno dos 0,2 HAF por 100 mil habitantes.
Caso haja dúvidas, eis a lista dos Países ordenados segundo homicídios e taxa de armas pro capita (dados de 2017: é melhor ampliar para poder ler):

Em azul os homicídios, em laranja as armas por cada 100 habitantes.

Aqui o Brasil ocupa a 8ª posição, mas o dado mais interessante acho ser outro: quanto maior forem as armas por cada 100 habitantes, tanto maior será o número de homicídios. Há só três significativas excepções: os EUA, que têm o maior número de armas mas ocupa "apenas" a 18ª posição quanto aos homicídios; a Sérvia, que tem o segundo maior número de armas (mas os recentes eventos históricos podem justificar isso) e um número de homicídios relativamente baixo; e a Suíça, a terceira nação do mundo por número de armas mas, na prática, sem homicídios (o que não me admira, conhecendo os Suiços...).

Quanto ao resto, é fácil observar como o gráfico reflecta a equação "mais armas aos cidadãos = mais crimes". E a coisa não pode surpreender: imaginem entrar com um fósforo ligado numa cave vazia: não há perigo. Imaginem agora entrar com o mesmo fósforo numa cave cheia de tanques de gasolina: acham que o perigo de acidentes será maior? Com as armas é o mesmo.

Ainda o estudo de Julio Jacobo Waisel: após a aprovação do Estatuto do Desarmamento, as mortes por armas de fogo atingiram o pique (2012: 42.416 mortos) dum crescimento começado em 1980. Mas a seguir foi anulada a tendência de crescimento anual dos homicídios de 7,2% e foi reduzido o número de assassinatos nos primeiros anos de implantação.

Com isso, segundo a pesquisa, 160.036 vidas foram poupadas no período de 2004 a 2012. Os jovens de 15 a 29 anos foram os principais beneficiários da mudança na legislação, com 113.071 vidas salvas.

Valeria a pena tamanha perda de vidas em nome da alegada possibilidade para defender-se (ver gráficos acima) ou duma ilusória "revolução" contra os poderes fortes (revolução que nunca acontece)? O Brasil fica entre os Países com mais armas pro capita: é por isso um País mais seguro daqueles onde há menos armas? É um País onde há mais liberdades civis, onde o poder está decididamente nas mãos dos cidadãos? Não parece.

O caso EUA

Ainda mais impressionante é o caso dos Estados Unidos. Mesmas perguntas: mais segurança, mais
direitos, mais poder aos cidadãos? Também aqui: não parece.

Então surge a pergunta: além de favorecer os produtores de armas (que agradecem), quais outras vantagens traz o facto de ter cidadãos armados?

Uma boa resposta surge da História, mais uma vez dos Estados Unidos. No século XIX, a maioria dos cidadãos do Velho Oeste estavam armados: por questões de defesa pessoal, para poder assassinar melhor os nativos, etc. Uma situação ideal para quem propõe mais armas para o povo.

Todavia, as grandes forças capitalistas sediadas sobretudo na Costa Leste conseguiram introduzir mudanças políticas, económicas e sociais que tornaram os EUA o que são hoje: um País onde ainda há um enorme número de armas na posse dos cidadãos mas onde o povo mal sabe o que se passa nos corredores do poder.

Hoje os jovens americanos são enviados para guerras em Países distantes a morrer por causas que não lhes pertencem, e nem é esta a primeira vez (houve o Vietname, a Coreia, etc.). Os media são controlados por um punhado de corporações que selecionam cuidadosamente o tipo de informação difundida. As ruas das metrópoles estão cheias de mortais substâncias estupefacientes cujas plantações são defendidas pelo governo em Países estrangeiros (Colômbia, Afeganistão, etc.). É possível organizar atentados, até espantosos (JFK, 9/11), sem que nunca sejam individuados os verdadeiros mandantes ou esclarecidas as derradeiras motivações. E tudo gravita em volta não do bem estar do indivíduo ou das comunidades mas apenas do dinheiro.

Mas não deveria ser assim, pois os norte-americanos têm armas, e muitas: são os cidadãos com mais armas no planeta. Mas nunca houve uma revolta popular nos EUA, nunca os cidadãos pegaram nas armas contra as más decisões do poder político ou económico. Até a única guerra civil do País (a Guerra de Secessão) foi "encomendada". Os norte-americanos até engoliram a pior crise económica (a Grande Depressão) sem levantar um só dedo, apesar de terem sido claras já na altura as reais causas do desastre (bancos). E o mesmo repetiu-se na mais recente crise de 2007.

A chave não são as armas: o que conta é controlar o cérebro de quem as empunha. É possível estar entre os cidadãos mais bem armados do planeta e, mesmo assim, ser conduzidos tal como uma criança. Não é uma teoria, são dados e factos.

As armas apenas dão uma ilusória sensação de potência se não forem acompanhadas pela maior arma de todas: o conhecimento.


Ipse dixit.
http://informacaoincorrecta.blogspot.com.br/2017/03/mais-armas-aos-cidadaos-mais-crimes.html

terça-feira, 21 de março de 2017

Edu Guimarães levará a jato o Moro para os EUA?, por Fábio O. Ribeiro

Eduardo Guimarães levará a jato o bebê de Rosemary para os EUA?
por Fábio de Oliveira Ribeiro
A única coisa que difere a civilização da barbárie é o uso da coerção segundo padrões legais previamente definidos e respeitados pelos agentes públicos encarregados de distribuir justiça. O uso da força, por mais que seja isto sedutor ou necessário, não se justifica quando o agente público competente para praticar o ato ignora, despreza ou excede os limites legais impostos ao uso da coerção.

No Brasil, a condução coercitiva só se justifica quando a testemunha ou o investigado se recusa a atender ordem válida para comparecer perante a autoridade. Não foi isto o que ocorreu no caso do blogueiro Eduardo Guimarães. Ele foi coagido a comparecer PF sem ter se recusado a atender uma prévia intimação. Portanto, o abuso de que ele foi vítima é evidente.
A justiça não pode ser distribuída por juiz que é inimigo da parte. A previsão legal nesse sentido é expressa e não comporta exceção. Sérgio Moro está processando criminalmente o blogueiro Eduardo Guimarães, portanto, ele não poderia proferir uma ordem contra ele num outro processo. Todavia, o juiz da Lava Jato resolveu esquecer sua obrigação legal de cumprir e fazer cumprir a norma que o obriga a se afastar do processo em que o blogueiro foi coercitivamente conduzido à PF.
Os policiais encarregados de conduzir coercitivamente o blogueiro poderiam ter se recusado a cumprir a ordem ilegal proferida por Sérgio Moro. Mas eles não opuseram qualquer objeção à prática do ato. Muito pelo contrário, eles cumpriram a ordem como se ela fosse legal. Apesar de reprovável, a conduta deles dificilmente resultará em qualquer punição administrativa.  
É evidente que, tendo sido vítima de uma coação duplamente ilegal, o blogueiro Eduardo Guimarães adquiriu o direito de reclamar no CNJ e de pedir indenização por dano moral. De fato, ele poderia até representar contra Sérgio Moro e contra os policiais. Em tese eles cometeram o crime de abuso de autoridade http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4898.htm.
O uso da força sem qualquer limite ou medo de punição é uma característica do terrorismo político. Ao punir ilegalmente quem considera seu inimigo, o terrorista tem um propósito: educar pelo medo. Ele não respeita qualquer direito do cidadão, porque a sujeição incondicional é a única coisa que ele deseja obter. Sujeição incondicional: é exatamente isto que Sérgio Moro deseja do blogueiro Eduardo Guimarães ao proferir uma decisão ilegal num processo em que ele estava impedido de atuar.
Qualquer que seja a conduta do blogueiro, creio que o episódio é emblemático. Ele demonstra que Sérgio Moro e a PF já não operam estritamente dentro da legalidade. Já estamos, portanto, vivendo sob uma barbárie semi-institucionalizada. O resultado do desvio pelo qual a Lava Jato procede com apoio do TRF, STJ, STF e CNJ é evidente: a operação já não pode mais resgatar qualquer moralidade ou normalidade na civilização brasileira, pois ela mesma está transformando os agentes públicos em terroristas políticos incapazes de respeitar a liberdade de imprensa.
O bebê de Rosemary nasceu nos cinemas em 1969. Mas tudo indica que ele cresceu no Brasil e se tornou juiz federal. Ficaremos felizes e mais livres quando ele finalmente for levado a jato para morar com sua esposa nos EUA.
http://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/edu-guimaraes-levara-a-jato-o-moro-para-os-eua-por-fabio-o-ribeiro

domingo, 12 de março de 2017

Temer é recebido na Paraíba aos gritos de “Olê, olê, olê, olá, Lulá, Lulá”

A canoa está virando. O fracasso econômico do golpe já começou a despertar o que Michel Temer classificou como “meia dúzia que protestam”.