“Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”
Luís Fernando Veríssimo

domingo, 30 de outubro de 2011

Adversário companheiro - Mário Covas


A ética de Covas, por Lula




Luiz Inácio Lula da Silva
Mário Covas foi um adversário leal. Com ele, podíamos sempre conversar abertamente. Esse tipo de político faz muito bem ao Brasil, ao contrário de outros que não têm ética nem cumprem compromissos.
Mesmo quando estávamos em pólos opostos, ele contribuía com grandes idéias para o debate. Dava prazer fazer política com Covas. A verdade é que ele deixa uma grande lacuna ética na política brasileira.
Covas tinha fama de mal-humorado, mas lutava e era honesto naquilo que falava. Acredito que o Brasil tenha perdido um exemplo de ética, de dignidade e de moral. Perdeu o Brasil, perdeu o PSDB e, acima de tudo, perdeu o povo brasileiro.
Isso não significa deixar de lado todas as nossas diferenças políticas e partidárias. Mas é hora de fazer o reconhecimento devido a uma pessoa por quem eu nutria um profundo respeito e admiração. Isso porque Covas tinha caráter e tinha palavra.

Na Assembléia Nacional Constituinte, quando fomos colegas, os conservadores, além de atacar a esquerda, tinham o objetivo de neutralizar e diminuir o peso de Mário Covas, que era então o principal negociador do PMDB e agia de forma honrada, cumprindo à risca o que acordava conosco.
Por mais que você pudesse discordar de Covas, você podia confiar na sua palavra. Tinha a certeza de que ele cumpriria os acordos e sabia também que ele poderia dizer não, mesmo quando seria mais fácil dizer sim.
Além disso tudo, ele sempre teve comigo um comportamento muito ético e decente, numa história que vem desde a solidariedade nas greves de 1979 e 1980, passando pela própria Constituinte, quando atuou com muita dignidade, e culminando no segundo turno das eleições de 1989, quando foi para o palanque comigo em São Paulo e no Rio de Janeiro, além do recente apoio à candidatura de Marta Suplicy na última eleição para a Prefeitura de São Paulo.
Em termos conjunturais, a morte do governador Mário Covas pode complicar ainda mais a relação entre a oposição e o governo federal. Acredito que, agora, fique mais difícil esse diálogo.
Covas tinha uma relação profunda com o PT, apesar das divergências. Esse era um dos fatores que facilitavam o entendimento entre nós.
É preciso dizer também que, dentro do PSDB, inclusive na sua alta cúpula, muita gente não gostava de Covas, muita gente o considerava muito duro. É bom lembrar que, não fosse por causa dele, certos tucanos teriam embarcado sem pestanejar na canoa furada do governo de Fernando Collor de Melo.
Como se sabe, entre os possíveis aderentes estava o presidente Fernando Henrique Cardoso e o atual governador do Ceará, Tasso Jereissati. Esse é, sem dúvida, mais um exemplo de que, além de visão política, ele tinha ética de verdade.
Luiz Inácio Lula da Silva, 54, é presidente de honra do PT (Partido dos Trabalhadores) e conselheiro do Instituto Cidadania. Foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (1975-81), deputado federal pelo PT-SP (1987-91) e presidente nacional do partido (1980-89, 1990-94 e 1995).
Texto publicado no jornal da Folha de S.Paulo, 7 de março de 2001 – pág. A-3
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-etica-de-covas-por-lula#more

sábado, 29 de outubro de 2011

Como seria um Brasil sem Lula?



Autor: 
 
Agora que as notícias dão conta da boa perspectiva de restabelecimento do Lula, é curioso debruçar nas análises apressadas sobre uma era pós-Lula.
Aliás, chocante a maneira como algumas comentaristas celebraram a doença de Lula. Até nos ambientes mais selvagens - das guerras, por exemplo - há a ética do guerreiro, de embainhar as armas quando vê o inimigo caído, por doença, tragédia ou mesmo na derrota. Por aqui, não: é selvageria em estado puro.
A analista-torcedora supos que, com a doença de Lula, haveria uma mudança radical no quadro político. Sem voz, Lula seria como um Sansão sem cabelos. Sem Lula, não haveria Fernando Haddad. Sem contar os diagnósticos médico-políticos-morais, de que Lula foi castigado por sua vida desregrada. Zerado o jogo político, concluiu triunfante.
Num de seus discursos mais conhecidos, Lula bradava para a multidão: "Se cortarem um braço meu, vocês serão meu braço; se calarem a minha voz, vocês serão minha voz...".
Qualquer tragédia com Lula o alçaria à condição de semideus, como foi com Vargas. O suicídio de Vargas pavimentou por dez anos as eleições de seus seguidores. É só imaginar o que seriam os comícios com a reprodução dos discursos de Lula. Haveria comoção geral.
A falta de Lula seria visível em outra ponta: é ele quem segura a peteca da radicalização. Quem seguraria suas hostes, em caso da sua falta? Seu grande feito político foi promover um pacto que envolveu os mais diversos setores do país, dos movimentos sociais e sindicais aos grandes grupos empresariais. E em nenhum momento ter cedido a esbirros autoritários, a represálias contra seus adversários - a não ser no campo do voto -, mesmo sofrendo ataques implacáveis.
Ouvindo os analistas radicais, lembrando-se da campanha passada, como seria o país caso Serra tivesse sido eleito? É um bom exercício. Não sobraria inteiro um adversário. Na fase Lula, há dois poderes se contrapondo: o do Estado e o da mídia e um presidente que nunca exorbitou de suas funções. No caso de Serra, haveria a junção desses dois poderes, em mãos absolutamente raivosas, vingativas.
Ao fechar todos os canais de participação, Serra sentaria em cima de uma panela de pressão. Sem canais de expressão, muitos dos adversários ganhariam as ruas. Sem a mediação de Lula, não haveria como não resultar em confrontos. Seria uma longa noite de São Bartolomeu.
Essa teria sido a grande tragédia nacional, que provavelmente comprometeria 27 anos de luta pela consolidação democrática.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

segunda-feira, 10 de outubro de 2011