“Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”
Luís Fernando Veríssimo

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Die Zeit: o Brasil tem um governo ou um bando de gângsters?


zeit
O semanário Die Zeit, que tira meio milhão de exemplares, está longe de ser sensacionalista, em seus 70 anos de vida. Ontem publicou uma análise brutal, importante para que se veja a desmoralização do nosso país no exterior.
Gângster não é uma palavra que usariam em circunstâncias normais.
O Jari da Rocha, colaborador deste Tijolaço que já morou nas bandas berlinenses traduziu e traz para a gente o texto do jornalista Thomas Fischerman, correspondente no Brasil. É de doer ver nosso país submetido a isso.

Governo ou um bando de gângsters?

Thomas Fischermann, no Die Zeit
As maiores atenções estão, agora, sobre o que Jucá disse involuntariamente sobre a corrupção. Os brasileiros já sabiam: Este governo interino tem um número excepcionalmente elevado de ministros e esqueletos no armário. Cheios de processos de corrupção e investigações que correm contra eles.
Assim como Michel Temer, ex-vice de Dilma e agora o presidente interino, que foi recentemente condenado por um tribunal por causa de irregularidades no financiamento de campanhas eleitorais. Segundo a lei brasileira, significa que pode não pode ser eleito em qualquer eleição por oito anos – ele jamais poderia, portanto, ser presidente de forma democrática. Como chefe do Parlamento do governo na Câmara, Temer atuou, particularmente, como um aventureiro: um político obscuro contra as ações anticorrupção e até uma investigação por tentativa de homicídio. Os críticos perguntam: Este é um governo ou um bando de bandidos?
A queda Dilma Rousseff deve impedir o julgamento de todos estes cavalheiros. Com deputados, senadores e membros do Supremo Tribunal envolvidos para impedir os promotores. Uma conspiração – conspiração Brasília. Mas este não é o único motivo: Caso contrário Temer e seu gabinete não teriam, com o novo governo, imposto seu ritmo e forma de governar. Metade do país colocou sobre eles a expectativa de que a economia do país deve ser salva. A administração Rousseff deixou aos frangalhos a economia: aumento da dívida, diminuindo economia, e sem um plano de melhoria à vista. No entanto, recentemente, ela foi isolada durante meses no parlamento e, por essa razão, dificilmente poderia implementar seus próprios programas de recuperação.
Rousseff volta ?
O ministro Jucá se licenciou – não se demitiu, deixou temporariamente o cargo de ministro até que a situação jurídica seja esclarecida. É notável já que o presidente interino Temer não o tenha expulsado. Um padrão está emergindo. O novo ministro da Justiça deste governo, logo que assumiu, disse: nem um direito é absoluto e país precisa funcionar. Disse isso sobre uma decisão que Temer teria que tomar (como a escolha do Procurado geral da república) Temer tentou pacificar, mas não tomou medidas adicionais.
A questão agora é como continuar em Brasília? Se as próximas gravações secretas foram publicadas, o escândalo continua. Agora, desde o início da semana, não soa mais estranho se a presidente deposta, Dilma Rousseff, e seus seguidores falam de um golpe: “Obviamente,” era e se não era, agora é. Disse ela.
As consequências disso tudo estão em aberto. Se o governo interino falhar e o golpe ficar claro, Rousseff, teoricamente, pode voltar de novo: No Senado carece de apenas dois ou três votos e os primeiros céticos já têm sem manifestado. O Senado pode recusar-se e a regra é simples. A Presidente, após 180 dias, volta automaticamente ao governo. Isto é concebível, porém… Rousseff teria os mesmos problemas de antes. Em primeiro lugar, um parlamento hostil, o que permite a ela nenhuma política consistente. Em segundo lugar, poderia haver novo pedido de impeachment para ela, por causa de um financiamento duvidoso de sua recente campanha eleitoral. Ou seja, com grande chance de, em seguida, ela ser colocada, uma segunda vez, para voar para fora do palácio.
Muitos vêem as eleições como a melhor saída para o país: a renúncia conjunta de Rousseff e Temer e um novo começo, desta vez legitimado pelo povo. Só precisa encontrar ainda candidatos convincentes para todas as partes – que também estão dispostos a assumir a liderança em tal impasse.
http://www.tijolaco.com.br/blog/die-zeit-o-brasil-tem-um-governo-ou-um-bando-de-gangsters/

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Temer traíra e ladrão de mais de 54 milhões de votos

A cultura do medo de um governo ilegítimo

Do Justificando
Por Salah H. Khaled Jr.
As areias do tempo retrocederam. O calendário foi rasgado e a história foi reescrita para garantir a reiteração do mesmo. Os fantasmas de natais passados retornam novamente para nos assombrar. Repentinamente nos reencontramos com um Brasil cujo prazo de validade aparentemente havia expirado. A mancha autoritária que ele representa enquanto ferida ainda aberta em nossa história não tem como ser apagada. Ele polui nosso passado, presente e futuro: é um monumento arcaico, que permanentemente compromete quaisquer esforços concretos para a consolidação da democracia no Brasil.
Nas últimas décadas, avançamos como nunca havíamos avançado antes. E por isso ousamos acreditar que nossa origem bastarda não nos acorrentava. A emancipação parecia algo possível. Enfim poderíamos deixar para trás o legado excludente do nosso passado colonial, como se ele fosse biodegradável. Uma democracia relativamente estável parecia estar ao nosso alcance. Mas, agora, tudo parece ter sido reduzido a cinzas. A legalidade foi estraçalhada. Práticas de exceção viraram regra sem o menor pudor: diversos atores sociais exteriorizam uma subjetividade violenta com jovial naturalidade. Fazem do público um reflexo distorcido do privado. Movidos por uma agenda de destruição, dão cabo de sua missão: toda espécie de direitos está prestes a ser consumida nas chamas de uma fogueira que será alimentada com corpos vulneráveis. Estão abrindo caminho a ferro e fogo para a terra prometida: um reino depurado de diversidade, no qual os patos têm acesso livre, as mulheres sabem qual o seu lugar e os espaços de poder desfrutam de um processo extensivo de branqueamento que fede a mofo.
Tochas estão sendo acesas de Norte a Sul do país. O ódio é exalado pelos poros dos incautos. Querem sangue. Nada menos que a destruição dos estigmatizados os satisfará, e nenhum dano colateral é grande demais para a consecução de tão desejável finalidade. Instrumentalizados pela violência simbólica do aparato jurídico-midiático que possibilitou o próprio golpe, possivelmente serão presas fáceis para a falácia da herança maldita que a tudo justifica. Gente lobotomizada não dispõe de ferramentas para se libertar da moral de rebanho. Não percebem que trajam grilhões de servidão e muito menos que o rei está nu. Mas nem tudo se resolverá tão rápido. Logo muitos deles serão confrontados com as próprias escolhas e acordarão de forma traumática para a realidade predatória de vulneráveis que é subjacente ao esforço golpista.
O controle do aparato político não saciará a fúria de nossas elites genocidas. Para elas, nada menos que a realocação de corpos bastará. É preciso reafirmar uma hierarquia social excludente. Garantir tanto a visibilidade quanto o sumiço do outro de certos lugares sociais. Banir o diferente como indesejável e simultaneamente assegurar que ele cumpra sua função como exército de mão de obra de reserva: um estoque de gente excluída disposta a vender seu tempo e suas forças sem ter direito a qualquer dignidade, motivo pelo qual a própria definição de trabalho escravo terá que ser redimensionada.
O sistema penal continuará a exercer sua função social de gestão da miséria. Para isso a redução da maioridade penal contribuirá significativamente. Uma vez que o seu funcionamento retrata de forma fidedigna o patamar democrático de uma sociedade, é possível compreender que de certo modo ele profetizava o retrocesso que estava por vir. A máquina de trituração do outro que é o poder punitivo no Brasil jamais cessou de funcionar ou sequer arrefeceu. Logo suas engrenagens lubrificadas serão colocadas a serviço da repressão e possivelmente a lei antiterrorismo em muito ajudará nessa missão. Considerando a essência autoritária e publicamente assumida do governo interino, será necessário reprimir, já que a resistência é forte: nas praças, nas ruas, nas universidades, no Judiciário, no Legislativo, no Executivo e em muitos outros lugares, como nas próprias redes sociais.
É dolorido reconhecer que a democracia no Brasil não era mais do que uma miragem. Dela resta a forma, mas o conteúdo foi perdido. É possível que a sua reconstrução seja tarefa para mais de uma geração. Mas ainda resta um fio de esperança para a resistência, por mais tênue que possa ser. Um sopro de legalidade pode ainda fazer com que o Leviatã estremeça. Você pode fazer a sua parte. Basta ter a coragem de encher os pulmões e não ceder aos próprios medos. É nos momentos de ruptura histórica que encontramos dentro de nós a coragem para não temer, mesmo quando o futuro parece incerto e ameaçador.
Você pode dizer não a tudo isso. Cante em alto e bom tom. Pela democracia. Pela liberdade. Pela legalidade. Pela diversidade. Carmina Burana. FORA TEMER. FORA TEMER. FORA MICHEL TEMER.
Veja e ouça aqui o magnífico ato no Palácio Gustavo Capanema, com excelente edição da Mídia Ninja:
Um grande abraço para quem ama a democracia!
Salah H. Khaled Jr. é Doutor e mestre em Ciências Criminais (PUCRS), mestre em História (UFRGS). Professor da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Escritor de obras jurídicas. Autor de A Busca da Verdade no Processo Penal: Para Além da Ambição Inquisitorial, editora Atlas, 2013 e Ordem e Progresso: a Invenção do Brasil e a Gênese do Autoritarismo Nosso de Cada Dia, editora Lumen Juris, 2014 e coordenador de Sistema Penal e Poder Punitivo: Estudos em Homenagem ao Prof. Aury Lopes Jr., Empório do Direito, 2015.
http://jornalggn.com.br/noticia/a-cultura-do-medo-de-um-governo-ilegitimo

sábado, 7 de maio de 2016

Homenagem às Mães

Mãe, são três letras apenas
As desse nome bendito:
Também o céu tem três letras
E nelas cabe o infinito
Para louvar a nossa a nossa mãe,
Todo bem que se disser
Nunca há de ser tão grande
Como o bem que ela nos quer
Palavra tão pequenina,
Bem sabem os lábios meus
Que és do tamanho do céu
E apenas menor que Deus!

Mario Quintana