“Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”
Luís Fernando Veríssimo

quarta-feira, 20 de junho de 2012

A ética da idealista Erundina



Os idealistas, os éticos, esse pessoal da esquerda que almeja a revolução asséptica, sem suor nem sangue, sem a imundície e o fedor próprios do mundo real, têm agora a sua heroína de ocasião, a deputada Luiza Erundina, essa valente mulher nordestina e pobre, que recusou sair como candidata a vice-prefeita na chapa do petista Fernando Haddad por não querer a companhia, na campanha, do notório Paulo Maluf.
Todos os idealistas, todos os éticos, veem nesse gesto da deputada o suprassumo da conduta política, o auge de uma carreira imaculada em defesa dos princípios do socialismo, ideologia que exige de quem a segue uma conduta comparada à de uma Madre Teresa de Calcutá.
Por outro lado, os nossos idealistas e éticos, ao exaltar o ato de coragem, destemor e desprendimento da deputada, tratam de sepultar o PT na mesma vala infecta onde se enterraram todos os outros partidos políticos do país - à exceção, claro de agremiações nanicas também idealistas e éticas, que nem por isso deixam de se aliar, não raras vezes, aos mais radicais representantes do conservadorismo pátrio. À direitona, enfim.
Muitos desses ético-idealistas são jovens ainda. É a esses, principalmente, que gostaria de lembrar um fato ocorrido há 19 anos, quando o país era governado por um senhor chamado Itamar Franco, que chegou ao mais alto cargo da República por ter se arriscado numa aventura como vice na chapa encabeçada por um tal de Fernando Collor de Mello. 
Pois bem, naquele tempo o PT era idealista e ético, como esses tantos indivíduos que hoje louvam a deputada Luiza Erundina. 
O PT foi oposição radical a Collor e continuou sendo a Itamar. Não fazia concessões em seu oposicionismo. Era pau puro, porrada em cima de porrada, não admitia nada que estivesse um milímetro fora de sua cartilha idealista/ética/socialista.
Até que Itamar, raposa velha, resolveu um belo dia jogar a isca para ver se o tal do PT era mesmo tudo isso que dizia. E, como quem não quer nada, convidou Luiza Erundina, que havia acabado de deixar a prefeitura paulistana, para fazer parte de seu ministério. 
Foi um deus nos acuda nas hostes do idealista e ético PT, que fechou questão: nenhum de nós vai aceitar ser ministro do governo Itamar, que nós tão fortemente combatemos.
Mas a idealista e ética Luiza Erundina topou o convite e deixou os seus companheiros idealistas e éticos do PT na mão. 
Naquele tempo, me lembro muito bem, o PT foi acusado de tudo por ter proibido que um de seus mais importantes quadros integrasse o governo Itamar. 
O resto da história é conhecido. Depois de usada pela direitona para mostrar o quanto intransigente e radical era o PT, a idealista e ética Luiza Erundina foi defenestrada, acabou isolada no partido e se abrigou no PSB, onde, na verdade, é apenas uma figura decorativa que a direção apresenta para dizer que é, vamos lá, socialista.
Gozado, mas agora me veio à mente o velho e antiquado slogan de uma das mais veteranas empresas de mudanças do país: "O mundo gira e a Lusitana roda."
É isso, o mundo gira, a Lusitana roda, e a deputada Luiza Erundina, quem diria, continua a deixar os companheiros na estrada.
Mas como ela é idealista e ética, está absolvida de qualquer pecadilho que possa ter cometido em sua longa vida política.

sábado, 16 de junho de 2012

A Folha e meu pequeno mico - Tucanagem pura


16/06/2012 — Ivson

Como tenho um monte de leitura atrasada, adotei a tática de levar um livro – sempre menor e mais leve – na bolsa para ler nos 15 minutos que fico ônibus, deixando os mais pesados na cabeceira, para a hora de dormir. Assim, no momento, leio o “Memórias de uma guerra suja” no ônibus e “Sobre a China”, do Kissinger quando vou pra cama (a conjugação é totalmente acidental, mas bem significativa, só que isso é outra história). Foi o primeiro que me faz pagar um miquinho semana passada.
Na página 147 do “Memórias”, o assassino estatal Cláudio Guerra confirma a participação da Folha de São Paulo na Operação Bandeirantes (Oban) – grupo de militares e civis, que, financiados por empresários, capturava, torturava e matava esquerdistas nos anos 70, durante a ditadura militar. O jornal paulista cedia seus carros de entrega para os terroristas de Estado fizessem ações de campana e mesmo de captura e transporte de presos.
Isso tudo é sabido há séculos e mesmo o jornal não desmente os fatos, embora não os confirme claramente e peça perdão à sociedade brasileira (chegou a mencionar o fato, em passagem breve, no portal, em texto sobre os seus 90 anos). Talvez incomodados com a posição pusilânime dos Frias, os autores – provavelmente mais Marcello Netto, que trabalhou anos na casa e chegou a cargos de confiança, do que o Rogério Medeiros – resolveram tomar as dores do jornal numa nota de pé de página que termina assim:
“(…) A Folha de São Paulo teve papel destacado na luta pelo fim da ditadura militar, na instalação da democracia brasileira e na luta pelas eleições livres no Brasil. É hoje a mais combativa e independente publicação da imprensa brasileira”.
Diante dessa inopinada e veemente defesa do periódico dos Frias, soltei um “ah!”, misto de surpresa, decepção e escárnio. Quem me conhece, sabe que sou meio escandaloso às vezes e por isso estou acostumado a alguns olhares de censura (minha risada é de constranger qualquer um, menos a mim), mas confesso que o olhar feio da moça que estava no banco do outro lado do corredor, muito entretida em batucar no seu smartphone, me fez enfiar a cara no livro e me afundar um dentro do estofamento gasto.

domingo, 10 de junho de 2012

A (des)importância do "mensalão"



Está na cara que o Supremo Tribunal Federal cedeu às pressões da imprensa e partidos oposicionistas que queriam marcar para já o julgamento do caso que ficou conhecido como "mensalão".
O circo está armado para que o o STF julgue o caso pouco antes das eleições municipais. Como os réus são muitos, é mais que provável que vários deles, inclusive políticos bem conhecidos, sejam condenados a alguma coisa, para que a oposição, sem bandeiras, sem rumo e sem votos, possa tirar uma casquinha e faturar em cima.
Pelo menos é isso o que pensam os que arquitetaram esse plano.
Assim, o julgamento do tal "mensalão" não será técnico, e sim político. E se esse fato for denunciado com vigor pela sociedade civil organizada - sindicatos, associações de classe, partidos políticos etc e tal - o Supremo vai se desmoralizar ainda mais do que já está, graças a esses ministros tresloucados que se metem a dar palpite em tudo - inclusive em casos sub judice - ou fabricam crises institucionais com a facilidade com que se compra banana na feira.
Mas vamos supor que a sociedade se cale diante desse descalabro que seria um julgamento político. Mesmo assim, mesmo que alguns réus sejam condenados, tenho cá minhas dúvidas de que esse fato será suficiente para mudar algo nas eleições municipais.
O que vai influenciar o resultado será outro julgamento: o das atuais administrações.
A de São Paulo serve como exemplo. Que importância tem para o eleitor o fato de José Dirceu ser condenado ou não se a cidade foi destruída por quatro anos de administração Kassab? Como será possível fazer o cidadão que sofre cada vez mais as consequências de uma gestão absolutamente incompetente mudar o seu voto porque fulano foi condenado por fazer caixa 2 eleitoral?
Só na cabeça de gente que vive em outro mundo é que isso vai acontecer.
O problema da oposição no Brasil - aí incluídos os jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão - é que está se distanciando cada vez mais da realidade, vive no universo que ela própria criou, acha que o editorial que escreve ou a denúncia que faz vai alterar a ordem universal.
Já passou o tempo em que isso acontecia, já vai longe o dia em que um editorial do Estadão era comentado e servia para influenciar o comportamento do público. Hoje, no máximo, ele nos faz dar umas boas risadas, tal o seu grau de alheamento do mundo real.
O brasileiro hoje é mais feliz porque tem emprego e salário e assim pode fazer várias coisas que antes, quando o país era governado pela turminha neoliberal, nem podia sonhar.
O povo é mesmo assim, pragmático, vota por conveniência e muito pouco por ideologia. Portanto, é um completo disparate pensar que o resultado do julgamento de um caso que não tem a menor importância para o dia a dia das pessoas vai ajudar a eleger candidatos oposicionistas.
Acho que já escrevi isso, mas não custa repetir: não há nada mais conveniente para a sobrevivência do projeto de poder do PT do que os adversários que ele tem.
http://cronicasdomotta.blogspot.com.br/2012/06/desimportancia-do-mensalao.html

terça-feira, 5 de junho de 2012

Da série descalabros do PSDB e aliados


Deu na mídia hoje: a Ccmpanhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) teve a circulação prejudicada por três horas ontem (das 11:55 até por volta das 15 h) com os trens circulando em lentidão e maior tempo de intervalo entre as estações por causa de uma pane iniciada entre a Granja Julieta e Santo Amaro, na Zona Sul paulistana.

Justificativa para a pane que trouxe de volta o apagão tucano nos transportes públicos paulistanos: queda de energia. O sistema CPTM, vocês sabem, junto com o metrô na capital, serve a milhões de passageiros diariamente na Região da Grande São Paulo.

E se lembram, também, porque vivem o drama, que entram em pane metrô e/ou trens em média duas vezes por semana. Quando não entram os dois juntos. Na semana passada, por exemplo, falhas prejudicaram o funcionamento da linha 9 da CPTM por dois dias seguidos.

Falta investimento em expansão e manutenção, dizem especialsitas

É o jeito de governo tucano gerir transportes públicos. Sem priorizá-los, sem investimentos em manutenção e expansão e sem atenção para o descalabro. Mesmo que ele ocorra no metrô mais lotado do mundo, o de São paulo, e num sistema de trens de subúrbio dos mais lotados que se conhece.

Tem mais na Folha de S.Paulo hoje: apesar de estarmos já no último mês do 1º semestre letivo do ano, pelo menos 20% dos alunos da rede pública municipal de ensino (mais de mil escolas) ainda estão sem o uniforme distribuido a um total de cerca de 640 mil estudantes. Na rede de escolas da Prefeitura, diz o jornal, quem mudou de colégio ou ingressou este ano ainda não recebeu o uniforme.

Justificativa da Prefeitura: a tirada de medidas desses alunos para confecção da roupa foi feita depois da realizada com os que já se encontravam na rede. Jeito de governar do prefeito paulistano Gilberto Kassab (ex-DEM-PSDB, agora PSD), que administrata a capital há oito anos em uma sólida parceria com os tucanos.

Caos no trânsito, a sucessão de recordes

No trânsito, a cidade de São Paulo registrava às 9 h de hoje 161 km de congestionamento. Foi o 3º maior congestionamento registrado no período da manhã neste ano, atrás apenas dos 249 km às 10h do dia 23 de maio e dos 168 km das 9h30 de 27 de abril.

Explicação da prefeitura demotucana: inúmeros acidentes, árvores caídas e mais de 30 semáforos com defeito, decorrentes das chuvas (finas) de ontem a noite, madrugada e manhã de hoje que, felizmente, não provocaram alagamentos nem enchentes.
Apenas uma constatação: apagão nos transportes e no trânsito, falência na educação e na segurança pública (leim o post Gestão tucana: mortes causadas por PMs aumentam todos os anos). No trânsito, quem sabe se Kassab tivesse construído e reformado os 26 corredores de ônibus que prometeu na campanha de sua reeleição em 2008, a cidade teria melhorado. Mas ele os engavetou e só há pouco menos de um ano antes do término de seu 2º mandato, prometeu reativar as licitações.

Sem mais comentários.
http://bit.ly/KajzkC