“Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”
Luís Fernando Veríssimo

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

A teoria das Janelas quebradas

Há alguns anos, a Universidade de Stanford (EUA), realizou uma experiência de psicologia social. Deixou duas viaturas idênticas, da mesma marca, modelo e até cor, abandonadas na via pública. Uma no Bronx, zona pobre e conflituosa de Nova York e a outra em Palo Alto, uma zona rica e tranquila da Califórnia. Duas viaturas idênticas abandonadas, dois bairros com populações muito diferentes e uma equipe de especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas em cada local.
 Resultou que a viatura abandonada em Bronx começou a ser vandalizada em poucas horas. Perdeu as rodas, o motor, os espelhos, o rádio, etc. Levaram tudo o que fosse aproveitável e aquilo que não puderam levar, destruíram. Contrariamente, a viatura abandonada em Palo Alto manteve-se intacta.
 Mas a experiência em questão não terminou aí. Quando a viatura abandonada em Bronx já estava desfeita e a de Palo Alto estava há uma semana impecável, os pesquisadores partiram um vidro do automóvel de Palo Alto. O resultado foi que se desencadeou o mesmo processo que o de Bronx, e o roubo, a violência e o vandalismo reduziram o veículo ao mesmo estado que o do bairro pobre. Por quê que o vidro partido na viatura abandonada num bairro supostamente seguro, é capaz de disparar todo um processo delituoso? Evidentemente, não é devido à pobreza, é algo que tem que ver com a psicologia humana e com as relações sociais.
 Um vidro partido numa viatura abandonada transmite uma idéia de deterioração, de desinteresse, de despreocupação. Faz quebrar os códigos de convivência, como de ausência de lei, de normas, de regras. Induz ao “vale-tudo”. Cada novo ataque que a viatura sofre reafirma e multiplica essa idéia, até que a escalada de atos cada vez piores, se torna incontrolável, desembocando numa violência irracional.

Baseados nessa experiência, foi desenvolvida a ‘Teoria das Janelas Partidas’, que conclui que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujeira, a desordem e o maltrato são maiores. Se se parte um vidro de uma janela de um edifício e ninguém o repara, muito rapidamente estarão partidos todos os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém, então ali se gerará o delito.
 Se se cometem ‘pequenas faltas’ (estacionar em lugar proibido, exceder o limite de velocidade ou passar com o sinal vermelho) e as mesmas não são sancionadas, então começam as faltas maiores e delitos cada vez mais graves. Se se permitem atitudes violentas como algo normal no desenvolvimento das crianças, o padrão de desenvolvimento será de maior violência quando estas pessoas forem adultas.
 Se os parques e outros espaços públicos deteriorados são progressivamente abandonados pela maioria das pessoas, estes mesmos espaços são progressivamente ocupados pelos delinquentes.
 A Teoria das Janelas Partidas foi aplicada pela primeira vez em meados da década de 80 no metrô de Nova York, o qual se havia convertido no ponto mais perigoso da cidade. Começou-se por combater as pequenas transgressões: lixo jogado no chão das estações, alcoolismo entre o público, evasões ao pagamento de passagem, pequenos roubos e desordens. Os resultados foram evidentes. Começando pelo pequeno conseguiu-se fazer do metrô um lugar seguro.
 Posteriormente, em 1994, Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York, baseado na Teoria das Janelas Partidas e na experiência do metrô, impulsionou uma política de ‘Tolerância Zero’. A estratégia consistia em criar comunidades limpas e ordenadas, não permitindo transgressões à Lei e às normas de convivência urbana. O resultado prático foi uma enorme redução de todos os índices criminais da cidade de Nova York.

A expressão ‘Tolerância Zero’ soa a uma espécie de solução autoritária e repressiva, mas o seu conceito principal é muito mais a prevenção e promoção de condições sociais de segurança. Não se trata de linchar o delinquente, pois aos dos abusos de autoridade da polícia deve-se também aplicar-se a tolerância zero.
 Não é tolerância zero em relação à pessoa que comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio delito. Trata-se de criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos básicos da convivência social humana.
 Essa é uma teoria interessante e pode ser comprovada em nossa vida diária, seja em nosso bairro, na rua onde vivemos.
 A tolerância zero colocou Nova York na lista das cidades seguras.
 Esta teoria pode também explicar o que acontece aqui no Brasil com corrupção, impunidade, amoralidade, criminalidade, vandalismo, etc.
Reflita sobre isso!
Recebi por e-mail


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Discurso de Lula na comemoração dos 35 anos do PT


Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou na noite de ontem (6) da comemoração dos 35 anos do Partido dos Trabalhadores. Ao lado da presidenta Dilma Rousseff, do convidado de honra da atividade, Pepe Mujica, de parlamentares, lideranças e da militância, Lula falou da fundação do partido, das transformações sociais ocorridas nos últimos 12 anos e de ações que o PT ainda deve adotar. Leia o discurso feito nesta sexta-feira (6) no Minascentro, em Belo Horizonte:
Querida companheira Dilma Rousseff, presidenta da República do nosso querido país; querido Pepe Mujica, presidente da República do Uruguai; querido companheiro Rui Falcão, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores; querido companheiro Fernando Pimentel, governador de Minas Gerais, em nome de quem cumprimento todos os demais governadores aqui presentes; querido companheiro Humberto, líder do PT no Senado, em nome de quem cumprimento todos os deputados, vereadores e senadores que estão aqui presentes; querido companheiro Aldo Rebelo, companheiro do PCdoB, em nome de quem cumprimento todos os companheiros convidados aqui presentes; companheiros ministros, companheiras ministras, companheiros militantes do nosso querido partido.
Eu, presidenta Dilma, não ouso, por hábito, ler discurso no encontro do PT. Mas eu, ontem, fiquei indignado. Tem dia que a gente fica mais indignado do que outros dias. E eu então tomei muito cuidado pra não tentar repassar aqui, nessa festa de 35 anos, a indignação que eu fiquei ontem. Porque seria muito mais simples a Polícia Federal ter convidado nosso tesoureiro pra se apresentar, do que ir buscá-lo em casa (aplausos). Seria muito mais simples dizer que eles estão repetindo o mesmo ritual que eu vejo nesse Brasil desde 2005, quando começou as denúncias que eles chamaram de mensalão. Toda quinta-feira – e na tua campanha também e na minha campanha também –, toda quinta-feira começa a sair boato, na sexta-feira sai a denúncia, é publicado pelas revistas e sai na televisão, no sábado continua saindo na televisão, no domingo massacre pela imprensa e na segunda-feira começa um outro assunto pra, na outra semana, começar tudo outra vez.
Então é um ritual, um ritual que está se repetindo. E na campanha a companheira Dilma foi vítima disso como poucas vezes eu vi alguém ser. E a utilização pela mídia não é o critério da informação, porque nós achamos que tudo que acontecer no país tem que ser informado. Mas o critério apontado pela mídia brasileira é o da criminalização do Partido dos Trabalhadores desde que nós chegamos (inaudível pelos aplausos). Eles trabalham com a convicção de que é preciso criminalizar o nosso partido, não importa que seja verdade ou não verdade. O que interessa é a construção da (inaudível) pra se construir uma narrativa.
Então eu pensei: se eu for falar tudo que eu penso, vai ser muito ruim, porque vai parecer que eu estou aqui falando com o fígado e eu não quero prejudicar o meu fígado aos 69 anos de idade (aplausos). Eu quero... Eu quero corrigir, porque acho que eu falei Aldo Rabelo. É Renato Rabelo, presidente do PCdoB. Renato, desculpa. É que você tá tão jovem que assim tá parecendo o Aldo Rabelo.
Companheiros e companheiras:
No dia 10 de fevereiro de 1980, algumas centenas de brasileiros e de brasileiras começaram a escrever uma das mais belas páginas da história política do nosso País.
  Naquele dia, companheiros vindos de todas as regiões, trabalhadores da cidade e do campo, intelectuais, estudantes, religiosos, militantes de esquerda, militantes sociais, nos reunimos para debater e aprovar o Manifesto da Fundação do Partido dos Trabalhadores.
  Era um tempo em que lutávamos por Democracia, enfrentando uma repressão que recaía de forma especialmente dura sobre os trabalhadores e nossos aliados. Um tempo em que estávamos conquistando, na prática e no aprendizado das lutas cotidianas, o direito de livre organização sindical e política da classe trabalhadora. Neste ambiente de lutas, com os pés firmes no chão e grandes sonhos na cabeça, nasceu o nosso querido partido.
  Quero recordar as primeiras palavras do nosso Manifesto de 1980. Quem sabe muitos de vocês não eram nascidos ainda. Aqui tem alguns que participaram deste manifesto. Dizia o manifesto, abre aspas:
“O Partido dos Trabalhadores surge da necessidade sentida por milhões de brasileiros de intervir na vida social e política do país para transformá-la.
A mais importante lição que o trabalhador brasileiro aprendeu em suas lutas é a de que a democracia é uma conquista que, finalmente, ou se constrói pelas suas mãos ou ela não virá.
As grandes maiorias que constroem a riqueza da nação querem falar por si próprias. Não esperam mais que a conquista dos seus interesses econômicos, sociais e políticos venham das elites e das classes dominantes.
O PT nasce da decisão dos explorados de lutar contra um sistema econômico e político que não pode resolver os seus problemas, pois só existe para beneficiar uma minoria de privilegiados.”
Fecha aspas (aplausos).
  É importante recordar essas palavras, de 35 anos atrás e muitas lutas depois, para fixar duas características essenciais do nosso partido: O partido nasceu para mudar e o PT nasceu para ser diferente.
  É isso que explica a nossa trajetória desde a fundação, por um punhado de idealistas comprometidos com as causas populares, até os dias de hoje, quando estamos governando este país que se tornou uma das maiores democracias e uma das maiores economias do mundo.
  Quantos partidos políticos chegaram aos 35 anos de existência com uma história de lutas e conquistas tão rica como a do nosso partido?
  E quantos partidos no Brasil, tendo conquistado o governo, conseguiram transformar de maneira tão intensa a realidade social, econômica e política em nosso país? Certamente, nenhum como o PT.
  Podemos falar com muito orgulho do nosso partido, porque fizemos e continuamos fazendo história neste país.
Companheiros e companheiras:
  É muito comum hoje... é muito comum hoje em dia as pessoas falarem em “nova política”, como se estivessem anunciando a invenção da roda.
  Por isso, quero lembrar outra passagem do nosso Manifesto de 35 anos atrás. Abre aspas:
  “O PT quer atuar não apenas nos momentos das eleições, mas, principalmente, no dia-a-dia de todos os trabalhadores, pois só assim será possível construir uma nova forma de democracia, cujas raízes estejam nas organizações de base da sociedade e cujas decisões sejam sempre tomadas pela maioria das pessoas.” (aplausos)
   Quem foi capaz de construir um partido de baixo pra cima, organizando núcleos nas fábricas, nos bairros e nas escolas, sabe muito bem o que foi fazer uma nova política neste país. (aplausos) 
  Desde a primeira prefeitura que elegemos, o PT introduziu uma nova forma de governar, com a participação direta da população nas decisões.
  O PT criou o Orçamento Participativo e abriu novos caminhos para a Democracia, por meio dos conselhos e das conferências para debater e efetivar políticas públicas.  
  A sociedade apropriou-se dessas práticas, aprendeu e cresceu com elas, qualificando sua relação com o poder público em todos os níveis. 
  Nova política foi combinar a atuação dos nossos deputados e vereadores com a presença nas ruas, nas greves e nas lutas populares.
  O PT participou da organização de movimentos sociais autônomos, que dinamizaram a Democracia e o processo político em nosso país.
  Estivemos na linha de frente do movimento pelas Diretas Já e pela plena redemocratização do país. Levamos à Assembleia Constituinte as propostas mais avançadas do campo popular e democrático.
  Elegemos prefeitos em grandes cidades, elegemos governadores, aprendemos a construir alianças, ampliando o diálogo com os diversos setores da sociedade.
  Disputamos três eleições presidenciais antes de alcançar a primeira vitória, acumulando ensinamentos e ampliando nossa articulação social em cada processo eleitoral.
  Foi a prática coerente dessa nova política, nas instituições e nas ruas, que consolidou o caminho para a vitória eleitoral do PT em 2002, quando o país escolheu o PT para governar.
  Nova política foi acabar com a fome neste país. Nova política foi garantir renda para a população e dinamizar (aplausos)... Nova política foi garantir renda para a população e dinamizar o mercado interno, abrindo uma era de desenvolvimento sustentado e inclusão social. O que fizemos nesses 12 anos honra a memória daqueles que viram, na criação do PT, a oportunidade histórica do povo brasileiro para tomar o destino em suas mãos.
  Companheiros da qualidade de Sérgio Buarque de Holanda, companheiros da qualidade de Apolônio de Carvalho (aplausos), companheiros da qualidade de Mário Pedrosa (aplausos), companheiros da qualidade de Lélia Abramo (aplausos), companheiros da qualidade de Henfil, da dona Helena Grecco (aplausos), companheiros da qualidade de Luiz Gushiken (aplausos), de Marcelo Déda (aplausos), entre tantos outros que sonharam conosco desde o início da jornada.
  O PT é motivo de orgulho e deve ser cada vez mais para cada militante das primeiras e das novas gerações. Cada um de nós pode andar de cabeça erguida e afirmar: nós construímos, contribuímos para mudar este país. Participamos, como povo brasileiro, da maior transformação política, social e econômica da história do país.
  A história do PT é o nosso maior patrimônio, e essa história ninguém, mesmo aqueles que mentem contra nós, não podem tirar, porque ela (inaudível pelos aplausos).
Companheiros e companheiras:

  Há pouco mais de 12 anos o PT começou a enfrentar seu maior desafio, cumprindo o destino de um partido que nasceu para mudar a realidade.
  Governar o Brasil, com as complexidades de um país historicamente marcado pela desigualdade, foi a missão que a sociedade nos confiou, em um voto carregado de esperança.
  A direção a seguir estava apontada, mais uma vez, companheiro Rui Falcão, em nosso manifesto de 35 anos atrás. Dizia, abre aspas:
  “O PT pretende chegar ao governo e à direção do Estado para realizar uma política democrática do ponto de vista dos trabalhadores, tanto no plano econômico quanto no plano social.” Fecha aspas.
  Seguimos essa orientação desde o primeiro dia de governo (aplausos). Houve, companheira Dilma, não se preocupe, não se impressione, houve medidas duras para corrigir os muitos problemas que herdamos. E você estava conosco já em 2003, tomando essas medidas duras. Houve medidas amargas, quando foi necessário, para garantir os avanços. Foi preciso reavaliar expectativas para lidar corretamente com a realidade do país e as responsabilidades do governo. Mas nunca deixou de haver diálogo democrático com todos os setores. Nunca um governo se abriu tanto à sociedade para receber propostas e reivindicações do povo brasileiro (aplausos).
  E nunca – jamais – traímos o compromisso com as camadas mais amplas da população, as que sempre foram relegadas no curso da história, aqueles ignorantes que o (inaudível) da sociologia tratou assim (inaudível pelos aplausos).
  Nesses 12 anos o povo brasileiro participou conosco do mais amplo processo de inclusão social deste país, no mais duradouro período de crescimento econômico com estabilidade.
  Nós temos de nos orgulhar de um governo que tirou, em 12 anos, 36 milhões de pessoas da extrema pobreza, que criou mais de 21 milhões de empregos com carteira assinada e que conseguiu incluir mais de 40 milhões na classe média.
  Temos de nos orgulhar de um governo em que, em 12 anos, o salário mínimo cresceu 74% em termos reais e que a renda das famílias mais pobres cresceu 66% (aplausos). De um governo que herdou um desemprego... Temos que nos orgulhar de um governo que herdou um desemprego de 12 e meio por cento ao ano. E a presidenta Dilma nos entregou, no final de 2014, o menor índice de desemprego da história do nosso país: 4,8% (aplausos).
  Temos de nos orgulhar de um governo em que o país dobrou a produção agrícola, garantiu comida farta na mesa do trabalhador e tornou-se um dos maiores exportadores mundiais de alimentos.
  Um governo que abriu a porta das universidades para os filhos dos trabalhadores, para os negros, para os índios, para os que jamais tiveram oportunidade.
Esses 12 anos de grandes mudanças marcarão para sempre a história do Brasil. Nós não podemos nos acomodar. Temos de compreender que foram os primeiros passos apenas de uma jornada que vai nos levar muito longe e que é preciso avançar para consolidar as conquistas.
Queridos companheiros e querida companheira Dilma:
Eu lembro que quando um povo que não gosta de nós chegou ao poder, a primeira coisa que eles falaram é que era preciso acabar com as coisas que Getúlio tinha feito no Brasil. A primeira coisa que disseram: “Precisamos acabar com as coisas do Getúlio, esquecer Getúlio Vargas”. Eles estão doidos pra nos esquecer, Dilma, eles estão doidos (aplausos). Acontece que nós tivemos uma disputa com eles dia 26 de outubro e, ao invés do povo querer nos esquecer, o povo preferiu eleger você presidenta da República (aplausos).
  Companheiros, uma coisa que eu não posso...  uma coisa que eu não posso deixar de falar pra vocês, porque eu converso com muita gente e às vezes eu vejo as pessoas fazendo críticas a alguma coisa, de algumas medidas que a companheira Dilma tomou logo no primeiro dia do mandato.
Eu lembro que, quando eu tive que tomar as medidas duras, quem tava comigo no governo – aqui tem muitos companheiros – ouvia todo dia eu dizer: “Companheiros, companheiros, olha, governar é como plantar uma jabuticaba. Ela demora pra dar, mas se a gente colocar água todo dia, ela vai ser forte” (aplausos).
E as pessoas, as pessoas não se dão conta. E eu aprendi essa lição: não tem nada pior na minha vida do que fazer a quimioterapia que eu fiz. Depois não teve nada mais grave na minha vida do que 33 sessões de radioterapia na minha garganta. Vocês não imaginam o que é. E eu tomava, era disciplinado. E fazia porque era necessário pra eu poder tá aqui, bonitão, falando com vocês hoje (aplausos).
  A companheira Dilma, a companheira Dilma, ela teve que tomar algumas medidas que eram necessárias e que vocês vão ter que tomar na vida de vocês. Medidas que nem sempre é aquilo que vocês querem. Mas vocês têm que pensar que, de vez em quando, a gente tem que parar, tomar fôlego e seguir a caminhada.
E pode ter certeza, Dilma, que esse povo continua, mesmo reclamando pelos corredores, tendo certeza que o que você vai entregar pra gente no futuro é muito melhor que muito mais coisas que (inaudível pelos aplausos). Faça o que você tiver que fazer... Faça o que tiver que fazer, porque um erro desastroso nosso, quem vai sofrer não somos nós. É o povo humilde desse país que nem tá aqui, que muitas vezes nem participa das coisas. E você tem obrigação não é de governar pro Lula ou pro Rui Falcão. É governar cuidando do povo brasileiro que precisa muito de você (aplausos).
Queridas companheiras e queridos companheiros:
O PT acaba de conquistar o quarto mandato consecutivo na Presidência da República. O PT será o partido mais longevo na história do país, mais longevo. Acho que só Dom Pedro governou mais do que nós (risos e aplausos). Mas eles não sabem que a gente ainda vai governar muito mais (aplausos). Este país vai... este país vai ter que incluir estes milhões e milhões de jovens que estão aí hoje, renegando a política, a vir participar da política. Porque nós temos a obrigação de dizer pra esses jovens que, se eles não gostam de política, eles vão ser governados por quem gosta. Então (inaudível pelos aplausos).
  Companheira Dilma, companheiras e companheiros e querido Pepe Mujica:
Foi talvez a mais difícil campanha eleitoral que já enfrentamos. Certamente, a mais suja. Aquela em que nossos adversários utilizaram as piores armas para tentar nos derrotar. Tentaram fraudar a vontade política da maioria, usando todos os seus recursos de comunicação para manipular, distorcer, falsear e até inventar episódios contra o nosso partido, nosso governo e a nossa candidata. 
  A quarta derrota eleitoral consecutiva despertou os mais baixos instintos dos nossos adversários. Tiveram a ousadia de pedir até recontagem dos votos, como se o Brasil ainda fosse aquela república das eleições feitas a bico de caneta.
  Tentaram impugnar a prestação de contas da nossa campanha e barrar a diplomação da nossa presidente. Tentaram criar um ambiente de inconformismo com o resultado que se recusam a aceitar democraticamente.
  Vencemos. O Brasil venceu mais uma vez, mas estejam certos: a luta está longe de acabar. Nossos adversários não podem dizer qual é o seu projeto, porque é antinacional, contrário ao desenvolvimento, é um projeto que exclui milhões de pessoas do processo econômico, político e social.
  Eles só podem atacar o PT e o nosso governo com as armas da irracionalidade e do ódio. Não têm, nunca tiveram autoridade para falar em nome da ética, mas é esse o campo que tentam desesperadamente nos atingir. Eles, que jamais investigaram a fundo uma denúncia de corrupção.  Eles, que varriam escândalos para debaixo do tapete. Eles, que alienaram o patrimônio da Nação no limite da irresponsabilidade.
   Foi o governo do PT que acabou com a impunidade que eles cultivaram por tanto tempo.  Nenhum outro governo fez mais para combater a corrupção neste país, conforme a presidenta Dilma deixou claro durante toda a campanha eleitoral.
  Mas vejam o que está ocorrendo em torno da Petrobrás (discurso interrompido por alguém da plateia elogiando Lula)... Ganhei meu dia (aplausos). Mas vejam o que está ocorrendo... Mas eu to lindo, eu to lindo, porque eu achei uma coisa generosa ela falar “lindo!”, mas eu não acreditei. Mas vejam o que tá ocorrendo no Brasil, em torno da Petrobras (discurso interrompido pela plateia saudando Lula)... Mas vejam o que está ocorrendo em torno da Petrobrás. Desde o início da campanha eleitoral, nossos adversários manipulam uma investigação institucional, com o objetivo de criminalizar o PT.
  Esta investigação, como todas as outras iniciadas em nosso governo, deve ser levada até o fim, esclarecendo os fatos, apontando os responsáveis e levando seja quem for para o julgamento. É isso que a sociedade espera e é isso que vem ocorrendo nos governos do PT, ao contrário do que ocorria no governo deles (aplausos).
  Nós estamos assistindo a repetição de um filme com final conhecido. Pessoas são acusadas, por meio da imprensa, com base em vazamentos seletivos de uma investigação à qual somente alguns têm acesso. Não há contraditório, não há direito de defesa. E quando o caso chegar às instâncias finais da Justiça, certamente o julgamento já foi feito pela imprensa, os condenados já foram escolhidos e restará apenas executar a sentença, como nós já vimos neste país.
  Nossos adversários não se incomodam que essa campanha já tenha causado enormes prejuízos à Petrobrás e ao país. O que eles querem, na verdade, é criminalizar o PT, paralisar o governo e continuar desgastando o nosso partido ao limite, sabe, que eles estão (inaudível).
  Mais uma vez eles falharam na tentativa de voltar ao poder pelo voto. Ao que tudo indica, companheira Dilma, não querem mais esperar outra derrota: partem claramente para a desestabilização, investem na crise, apostam no caos. Na falta de votos, buscam atalhos para o poder, manipulando a opinião pública e constrangendo as instituições.
  Eles vão, esteja certa, companheira Dilma – você e eu que somos muito novos ainda –, pode ficar certa: eles vão prestar contas à História sobre a maneira antidemocrática como vêm agindo (aplausos).
  Cabe ao PT denunciar essas manobras com firmeza, repelir a mentira, esclarecer a sociedade e agir de acordo com a gravidade da situação. A verdade é que foi o governo deles que tentou destruir a Petrobrás. E foi o nosso governo que a resgatou, retomou os investimentos que levaram à descoberta do Pré-Sal e fizeram da Petrobrás a maior produtora mundial de petróleo entre as empresas de capital aberto (aplausos).
A verdade – e é isso que está nos autos da investigação, mas não está nos jornais nem na TV – é que havia corrupção nos contratos que a Petrobrás assinou com empresas estrangeiras no tempo deles. E isso nunca foi e nem será investigado.
A verdade é que, apesar de todo o alarido, não há nenhuma prova contra o nosso partido nesse processo, nenhuma doação ilegal, nenhum desvio para o partido. Nada! O que eles querem é (inaudível) o dinheiro legal que o Partido dos Trabalhadores usou nas suas campanhas (aplausos).
  E estejam certos: se algo de concreto vier a ser encontrado, se alguém tiver traído a nossa confiança, que seja julgado e punido, dentro da lei. Porque o PT, ao contrário dos nossos adversários, não compactua e nem compactuará com a impunidade de quem quer que seja (aplausos).
Companheiras e companheiros:
  O resultado eleitoral nos obriga também a uma reflexão sincera sobre as dificuldades do PT para manter sua sintonia histórica com os anseios da sociedade brasileira. Não é possível ignorar esse desgaste. Não é possível a gente imaginar que tá tudo perfeito.
  Não é verdade que o PT tenha se transformado em um partido pior do que os outros, mais fisiológico ou mais sujeito aos desvios. O verdadeiro problema do PT é que ele vai se tornando cada vez mais, se a gente não tomar cuidado, um partido igual aos outros, deixando de ser um partido das bases para ir se tornando cada vez mais um partido de gabinetes (aplausos).
  Nós sabemos... Nós sabemos – e ninguém precisa achar que estamos criticando (inaudível) –, a estrutura à disposição de um deputado é maior do que a de um diretório estadual do partido na maioria dos estados do nosso país. A estrutura dos cargos do governo, também. E ao longo do tempo, isso alterou a vida interna do partido. Há muito mais preocupação em vencer as eleições, em manter e reproduzir mandatos, do que em participar da vida interna do nosso partido.
Eu tenho feito... (aplausos). Eu vim de uma reunião com o governo Rui Falcão e tenho uma reivindicação aos deputados e senadores que, pelo amor de Deus, tem um final de semana por mês para que o partido possa mandar-nos viajar para alguns cantos do país para que a gente possa fortalecer e continuar fortalecendo o nosso partido (aplausos). 
  As direções, tanto as regionais quanto a nacional, muitas vezes ficaram prisioneiras dessa lógica. Tornaram-se burocráticas e menos representativas da nossa base social. Militantes e dirigentes, às vezes, tornam-se profissionais da política e dos governos. Aquele sonho do partido de base, que estava no manifesto, aos poucos está se diluindo, porque a ideia da gente ir pra porta da fábrica, a gente ou vai pra repartição pública, ou vai pro gabinete de vereador, deputado... (aplausos)
  Falando francamente: muitos estão mais preocupados em manter – e se manter – nessas estruturas de poder do que em fazer a militância partidária que estava na origem do PT.
  Essa é a origem de vícios, como uma militância paga. Essa é a origem de vícios, como uma militância paga. Tem gente agora que só trabalha pra ganhar dinheiro. Ninguém mais segura faixa de graça, ninguém mais carrega as coisas de graça... A disputa por cargos em gabinetes. Eu fico imaginando o que o Falcão deve tá sofrendo agora, o que que a Dilma deve tá sofrendo, o que que (inaudível). “Olha, eu to à disposição” (inaudível). Tem gente que fala: “Olha, eu to aqui à sua disposição”.
Então eu acho, companheiros e companheiras, que essa é a origem de vícios, a militância paga. A disputa por cargos de gabinete, o investimento de grandes recursos em campanhas eleitorais. Tá ficando proibitivo fazer campanha política pra eleger as pessoas mais humildes desse país, porque ninguém consegue finanças pra fazer uma campanha. É por isso que nós precisamos acabar com o financiamento privado em campanha política. Acabar definitivamente (aplausos). Vícios que nós sempre criticamos na política tradicional.
  É nesse ambiente que alguns, individualmente, cometem desvios que nos envergonham diante da sociedade e perante a história do PT. É dessa forma que o exercício do poder, ao invés de fortalecer, acaba fragilizando um partido. 
  Não é fenômeno inédito. Aconteceu historicamente com grandes partidos populares ao redor do mundo. Mas penso que esse processo tá chegando ao limite no nosso partido e nós precisamos darmos fim nessa situação.
  Vamos lembrar o nosso manifesto. Não podemos esquecer que o PT nasceu para ser diferente. Resgatar esse espírito é o nosso desafio nesse momento.
  Não se trata de propor, de forma ingênua, a volta a um passado que não existe mais. O país mudou nesses 35 anos. Mudou graças ao PT, não aos que nos criticam de fora. Mudou porque cumprimos os objetivos que levaram à criação do partido.
  Hoje o país é outro, a realidade da classe trabalhadora é outra, a juventude é outra, as reivindicações e interesses da população, meu caro (inaudível), são outras. E estão num novo patamar, assim como as demandas para a ampliação de direitos e da Democracia.
  O PT precisa responder a essa nova realidade. Articular as demandas dos milhões de brasileiros que conquistaram emprego digno e que têm novas oportunidades. Que aprenderam a usar a renda e o crédito para realizar sonhos antigos e que têm, portanto, novos sonhos.
  Precisa ouvir e dialogar com toda uma geração de brasileiros que ainda era criança quando o povo nos levou à Presidência da República. Uma geração que não conhece a nossa história e não vai conhecê-la se não tivermos a inciativa de contar a eles como era este país nos tempos da ditadura, como era o Brasil antes de nós chegarmos ao governo em 2002.
  Precisamos dialogar com as novas demandas democráticas, no plano dos direitos das pessoas, demandas que acompanham a evolução da sociedade e que não eram tão claras a 35 anos atrás.
  É necessário ter muita clareza das mudanças que ocorreram, para elaborar um novo pacto político com a sociedade brasileira, um pacto que atenda às exigências de hoje e que aponte para o futuro.
  Não há respostas fáceis para essa questão. Temos de buscá-las em nossas raízes, porque, se chegamos até aqui, foi pelo que fizemos desde o começo da caminhada.
  Não há dirigente ou liderança individual capaz de apontar o caminho. Não em um partido democrático de massa, como o PT sempre se propôs a ser.
  O PT não é o seu presidente, não é a sua direção, não é o presidente da República, não é qual ou tal liderança. O PT são milhares de filiados e milhões de militantes anônimos (aplausos). São os setores da sociedade que se consideram representados pelo partido, participam do debate político e têm sido decisivos nos embates eleitorais. É aí que vamos encontrar a energia renovadora, para recriar o sonho original do nosso querido partido.
  Creio que é esse o debate que devemos fazer agora, quando iniciamos o processo de renovação da direção partidária.
  Temos a oportunidade, viu Falcão, a oportunidade histórica de elaborar, quem sabe, um novo Manifesto, capaz de traduzir nossos compromissos para os dias de hoje e para os próximos 35 anos.
   Isso exige humildade e coragem de cada um.  Humildade para reconhecer o que é preciso mudar, e coragem para continuar mudando.
  Temos a história ao nosso lado e o futuro diante de nós. O PT precisa estar, mais uma vez, à altura de suas origens, porta-voz da esperança, da democracia, da ética e da igualdade.
  Muito obrigado e viva o PT! (aplausos)
http://www.institutolula.org/discurso-de-lula-na-comemoracao-dos-35-anos-do-pt
http://www.institutolula.org/discurso-de-lula-na-comemoracao-dos-35-anos-do-pt

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Disse o Lula (mais claro é impossível !)

Do site Conversa Afiada

Disse o Lula (mais claro é impossível !)

Nossos adversários não podem dizer qual é o seu projeto; porque é antinacional, contrário ao desenvolvimento, é um projeto que exclui milhões de pessoas do processo econômico e social. 
Eles só podem atacar o PT e o nosso governo com as armas da irracionalidade e do ódio.  

Não têm, nunca tiveram, autoridade para falar em nome da ética, mas é nesse campo que tentam desesperadamente nos atingir. Eles, que jamais investigaram a fundo uma denúncia de corrupção.  Eles, que varriam escândalos para debaixo do tapete. Eles, que alienaram o patrimônio da Nação “no limite da irresponsabilidade”.

Foi o governo do PT que acabou com a impunidade que eles cultivaram por tanto tempo.  Nenhum outro governo fez mais para combater a corrupção nesse País, conforme a presidenta Dilma deixou claro na campanha eleitoral.

Mas vejam o que está ocorrendo em torno da Petrobrás. Desde o início da campanha eleitoral, nossos adversários manipulam uma investigação institucional, com o objetivo de criminalizar o PT.

Esta investigação, como todas as outras iniciadas em nosso governo, deve ser levada até o fim, esclarecendo os fatos, apontando os responsáveis e levando seja quem fora a julgamento. É isso que a sociedade espera e é isso que vem ocorrendo nos governos do PT – ao contrário do que ocorria no tempo deles.

Mas estamos assistindo a repetição de um filme com final conhecido. Pessoas são acusadas, por meio da imprensa, com base em vazamentos seletivos de uma investigação à qual somente alguns têm acesso. Não há contraditório, não há direito de defesa. E quando o caso chegar às  instâncias finais da Justiça, o pré-julgamento já foi feito pela imprensa, os condenados já foram escolhidos e bastará apenas executar a sentença.

Nossos adversários não se incomodam que essa campanha já tenha causado enormes prejuízos à Petrobrás e ao País. O que eles querem é paralisar o governo e desgastar o PT, a qualquer custo.  

Mais uma vez eles falharam na tentativa de voltar ao poder pelo voto. Ao que tudo indica, não querem mais esperar outra derrota: partem claramente para a desestabilização, investem na crise, apostam no caos. Na falta de votos, buscam atalhos para o poder, manipulando a opinião pública e constrangendo as instituições.

Eles vão prestar contas à História sobre a maneira antidemocrática como vêm agindo.