“Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”
Luís Fernando Veríssimo

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Miruna relata em livro processo vivido por Genoino com 'mensalão'

Segundo filha de ex-presidente do PT, ele "está angustiado com tudo o que está acontecendo, e, apesar de não estar na vida política pública, está sempre pensando sobre política"

por Eduardo Maretti

São Paulo – O ex-presidente do PT José Genoino está “tranquilo dentro do possível”, com o cenário político brasileiro. “Está angustiado com tudo o que está acontecendo, mas está bem de saúde”, conta Miruna Kayano Genoino, filha do ex-deputado. “Meu pai vive política o tempo inteiro. Mas tem conversado sobre política só com amigos. Não está fazendo nada partidário ou institucional. Apesar de não estar na vida política pública, está sempre pensando sobre política.”
Miruna está fazendo uma campanha para arrecadar fundos com os quais pretende lançar, em março, o livro Felicidade Fechada, pelo qual conta o processo vivido por Genoino e sua família desde 2005, quando ocorreram as primeiras denúncias relacionadas ao chamado “mensalão”. A campanha tem como meta arrecadar R$ 87 mil – até o final da tarde desta sexta-feira (4), as doações chegavam R$ 64 mil, pelo site Catarse

A obra é dividida em duas partes. Uma reunindo relatos escritos por Miruna durante o período, especialmente o processo de julgamento, condenação e prisão e, na segunda, as cartas que enviou ao pai. A intenção é "recontar a história que estava aparecendo nas manchetes de um jeito que a gente sabia que não era verdade".
De acordo com Miruna, o momento mais difícil em todo o processo se deu quando Genoino foi levado para a Papuda, em Brasília. “Primeiro porque eu não estava em Brasília. A gente não chegou a se despedir. Eu e ele ficamos dois meses sem nenhuma comunicação direta. Não tinha como vê-lo, porque tenho meu trabalho em São Paulo e as visitas eram quarta-feira. Então fiquei impossibilitada de ir”, conta ela, que é educadora.
Depois da etapa mais tensa e angustiante, a família começou a ficar mais tranquila quando ele voltou a São Paulo, em maio de 2015, após o Supremo Tribunal Federal ter decidido extinguir sua pena por corrupção ativa na Ação Penal 470, em decisão unânime, a partir do indulto natalino de dezembro de 2014.
O período em torno do indulto não deixou de ser tenso, lembra Miruna. O STF e seu então presidente Joaquim Barbosa haviam negado, até então, vários recursos que a defesa de Genoino havia tentado, como o indeferimento, por Barbosa, do pedido para que ele cumprisse a pena em regime semiaberto em São Paulo, onde mora. Barbosa presidiu STF e foi o relator da AP 470, em que pediu a condenação de José Genoino sem nenhuma prova ou evidência de que tenha cometido algum crime.
O caso do mensalão foi um primeiro balão de ensaio a empregar a condenação pela imprensa, de modo a induzir os integrantes do Judiciário a votar não necessariamente de acordo com os autos – e provas de culpa –, mas de acordo com as pressões da opinião pública diante da espetacularização do processo. O método tem sido adotado à exaustão pelos da Lava Jato, e tem sido a base de sustentação da operação desde seu início.
Na época do indulto, a imprensa enfatizou o tempo todo que a medida deputado havia sido determinada pela presidenta Dilma Rousseff como se fora um ato para beneficiá-lo, quando na realidade é uma ação adotada todos os anos e beneficia inúmeros detentos.
Assista à mensagem em que Miruna explica o projeto do livro
http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2016/11/miruna-relata-em-livro-versao-sobre-processo-vivido-por-genoino-3166.html

sábado, 5 de novembro de 2016

Mariana: Marcha em defesa dos que não têm para onde ir

O rompimento da barragem em Mariana (MG), que completa um ano neste sábado (5), mobilizou diversos segmentos da sociedade que até hoje cobram providências da Samarco, operadora da barragem, da Vale e BHP Billinton, sócias da empresa, bem como de governos e instituições no que toca à definição de responsabilidades.
Uma das entidades mais atuantes nessas cobranças tem sido o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), entidade social sem fins lucrativos criada em 1989 e que se encontra presente em 17 estados, assessorando comunidades atingidas por falha dessas estruturas em todas as regiões do país.  
Letícia Oliveira, coordenadora do MAB em Minas, e residente em Mariana desde o dia seguinte ao rompimento da barragem, conversou com a Sputnik e conta as ações que estão sendo realizadas, como a marcha que saiu de Regência (ES) em 30 de outubro e percorreu oito municípios no estado e em Minas Gerais até chegar a Mariana, onde realiza um encontro neste sábado para debater o acidente que atingiu as comunidades. Participam da marcha representantes das famílias e aldeias atingidas, setores da Igreja Católica, movimento de trabalhadores e estudantes. 
"O MAB surgiu para dar apoio a centenas de comunidades que vêm sofrendo com as consequências da construção de barragens pelo Brasil desde a década de 70, em boa parte devido à formação de grandes reservatórios decorrentes da construção de hidrelétricas, principalmente nas regiões Sudeste, Nordeste e Norte. São cerca de 1 milhão de pessoas que vivem nos entornos desses empreendimentos e que podem ser diretamente atingidas em caso de acidente."
Letícia explica que há três tipos de barragens: a dos reservatórios das hidrelétricas, as de abastecimento e irrigação, principalmente no seminário nordestino, e as de refugo de minério, como é o caso da de Mariana. No caso específico do acidente em Minas, a coordenadora do MAB diz que a entidade está realizando diversos debates pelo país sobre as consequências e os impactos desses acidentes e reivindicando direitos das populações atingidas que normalmente costumam ser violados.
Indagada sobre as primeiras impressões que teve ao ver a devastação em Bento Rodrigues, o primeiro distrito em Minas a receber o impacto da tsunami de lama proveniente da barragem de Fundão, Letícia é concisa:
"Não sobrou nada. Em uma quadra, apenas as ruínas de algumas casas. Bento Rodrigues não tem água, luz, houve muito saque nos dias seguintes ao desastre. O município sumiu do mapa. Em Paracatu de Baixo, vizinho a Bento, só sobraram 30 casas."
Não só o MAB vem acompanhando os trabalhos de assistência. A advogada Raphaela Lopes, da ONG Justiça Global, também vem monitorando a situação dos atingidos pelo desastre ambiental, cobrando ações de empresas e do governo. Segundo Raphaela, a tragédia em Mariana é reflexo de um problema estrutural da mineração no Brasil e no mundo. 
"A gente olha para o rompimento como o extremo das violações que a mineração causa todos os dias em vários territórios no Brasil e no mundo inteiro. Somos uma das organizações que fundou a Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale, ou seja acompanhamos há algum tempo as violações cometidas pela empresa." 
Nos casos como o de Mariana e de mineração em geral, fica bem claro, segundo ela, o interesse do Estado nesses empreendimentos. Para Raphaela, o Estado muitas vezes investe recursos nesses empreendimentos de mineração, é um grande interessado no sucesso do empreendimento. "Isso faz com que ele acabe sendo um pouco negligente em relação ao apoio às vitimas e à fiscalização. É algo que a gente vem apontando com preocupação no cenário da mineração como um todo." Segundo a advogada da ONG Justiça Global, no caso de Mariana, se viu um esforço do Estado de deixar isso passar.  
"A grande manifestação disso é o acordo entre a União, os governos de Minas Gerais e de Espírito Santo e as empresas Samarco, Vale e BHP. Um acordo imoral, pois foi elaborado sem participação dos atingidos, as empresas não assumem responsabilidade pelo acontecido, somente se comprometem a reparar os atingidos. A empresa faz o cadastro dos atingidos. A fundação, criada pelas empresas, decide quem é classificado como atingido e quem não. É como pedir ao lobo para cuidar do galinheiro." 
JB