“Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”
Luís Fernando Veríssimo

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A PIRACEMA PROGRESSISTA BRASILEIRA


Saiu na Carta Maior texto de Saul Leblon:


Vista a partir de retinas embaçadas de cansaço ou ideologia, a transformação social parece uma impossibilidade aprisionada em seus próprios termos: as coisas não mudam, se as coisas não mudarem; e se as coisas não mudarem, as coisas não mudam…

O sistema de produção baseado na mercadoria cria e apodrece previamente as pontes – indivíduos, partidos etc – das quais depende a travessia para uma sociedade justa e virtuosa.

Rompe-se o lacre da fatalidade no pulo do gato das sinapses entre as condições objetivas e as subjetivas, diz a concepção materialista da história. Mas a dialética dura das transformações reais não é uma mecânica hidráulica. Não é maquinaria lubrificada e autopropelida ao toque de botão.

A história é um labirinto de contradições, uma geringonça que emperra e se arrasta, desperdiça energia e cospe parafusos por onde passa. Para surgir um ‘Lula’ desse emaranhado tem que sacudir muito a estrutura. Greves, levantes, porradas, descaminhos etc. Dói. Demora. Décadas, às vezes séculos.

Uma liderança desse tipo – e aquelas ao seu redor; ‘uma quadrilha’, diz o vulgo conservador – constitui um patrimônio inestimável. Mesmo assim, é só o começo; fica longe do resolvido.

A ‘pureza’ política pretendida por alguns juízes do STF é pouco mais que uma bobagem de tanga disfarçada de toga diante do cipoal da história.

A cada avanço, não regredir já é um feito Quarenta milhões passaram a respirar ares de consumo e cidadania após 11 anos de governos progressistas no país. É uma espécie de pré-sal de possibilidades emancipadoras. Como evitar que essa riqueza venha a se perder no sorvedouro de futuro escavado por júniores & virgílios ?

Lula talvez tenha intuído o ponto de esgotamento do cardume ao final da piracema histórica impulsionada pelos grandes levantes operários do ABC paulista, nos anos 70/80.

Ao final de uma piracema, a ‘rodada’ do conjunto exaurido leva uma parte à morte; outra se deixa arrastar por correntezas incontroláveis; um pedaço sucumbe a predadores ferozes.

Lula precisava de um novo e gigantesco laboratório forrado de desafios e recursos para gerar contracorrentes, revigorar, sacudir e renovar a piracema progressista brasileira.

São Paulo tem o tamanho da alavanca necessária para fazer tudo isso e irradiar impulsos talvez tão fortes quanto aqueles derivados das assembleias históricas que dirigiu no estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo.

Haddad, os intelectuais engajados, os movimentos sociais e as lideranças mais experientes do campo progressista terão que movê-la a partir de agora e pelos próximos quatro anos.

Está em jogo o próximo ciclo de mudanças da sociedade brasileira.

Colunistas sabichões dizem que ’se isolarmos São Paulo’, Lula fracassou.

Eles não sabem do que estão falando; apenas ruminam líquidos biliares da derrota na forma de desculpas para a explícita opção pela água parada do elitismo.

Topam um Serra cercado de malafaias & telhadas. Mas abjuram a correnteza de um PT – ’sujo pela história’, na sua ótica. Testam versões para abduzir a derrota esmagadora da água podre na figura do delfim decaído, José Serra , em São Paulo.

Na Folha desta 3ª feira as rugas das noites mal dormidas recebem o pancake daquilo que se anuncia como sendo “uma onda oposicionista que mudou a cara do poder no Brasil”.

A manchete traz a marca do jornalismo conservador cada vez mais ancorado em ‘pegadinhas’ à altura dos petizes que brincam nesse tanquinho de areia tucano.

Desta vez, a Folha induz o leitor ao erro de considerar ‘oposicionista’ como de oposição ao governo federal e ao PT. Na verdade, o texto trata das reviravoltas em que prefeitos e seus candidatos foram batidos por adversários locais.

Mas a isenção se dispensa de fornecer ao leitor o conjunto abrangente que relativiza a parte privilegiada. Aos fatos então:

a) o PT foi o partido que fez o maior número de prefeitos (15) no segmento de cidades grandes, com 200 mil a um milhão de habitantes;

b) o PT vai governar 25% do eleitorado nesse segmento;

c) juntos, os partidos da base federal, PMDB, PSB e PDT, fizeram outros 20 prefeitos nessa categoria das grandes cidades;

d) vão governar 26% desse eleitorado;

d) no conjunto, a base federal terá sob administração mais da metade dos eleitores desses municípios.

Os colunistas da Folha exageram na cambalhotas para induzir o leitor a ‘enxergar’ como foi horrível o desempenho do partido, ’se excluirmos’, dizem eles, a ‘vitória isolada’ em SP.

Em eleições anteriores, o esforço era para decepar o Nordeste ‘atrasado’ do mapa relevante da política nacional e, desse modo, rebaixar a crescente hegemonia do PT.

Agora que o PT de fato refluiu nas capitais do Norte e Nordeste é a vez de seccionar a própria jugular paulistana, que reúne 6% da demografia nacional e 11% do PIB.

A narrativa da vitória ‘isolada’, como se São Paulo fora um ponto fora da curva num deserto eleitoral petista, não é verdadeira sob quaisquer critérios.

Sozinho, o PT administrará o maior contingente de eleitores de todo o país (1/5 do total) e a maior fatia de orçamentos municipais (22%).

A vitória em SP tampouco foi um feito solitário no estado-sede do PSDB.

Bombam a derrota em Diadema, mas além da capital, o partido manteve e reforçou o chamado cinturão vermelho. Venceu em Guarulhos, Santo André, Mauá, Jundiaí, S.José dos Campos, Osasco e São Bernardo.

Nos próximos quatro anos, com uma eleição presidencial pelo meio, o PT governará 45% do eleitorado do Estado de SP, contra 19,3% do PSDB.

O cardume subsiste numeroso. O que se discute é outra coisa: a qualidade, a força e a direção do impulso que irá dotá-lo de fôlego transformador nos próximos anos. É disso que se trata. E isso é muito mais sério do que as cambalhotas da razão nos tanquinhos de areia do dispositivo midiático conservador.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Zé Dirceu


Mais uma vez, a decisão da maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal de me condenar, agora por formação de quadrilha, mostra total desconsideração às provas contidas nos autos e que atestam minha inocência. Nunca fiz parte nem chefiei quadrilha.

Assim como ocorreu há duas semanas, repete-se a condenação com base em indícios, uma vez que apenas o corréu Roberto Jefferson sustenta a acusação contra mim em juízo. Todas as suspeitas lançadas à época da CPI dos Correios foram rebatidas de maneira robusta pela defesa, que fez registrar no processo centenas de depoimentos que desmentem as ilações de Jefferson.

Como mostra minha defesa, as reuniões na Casa Civil com representantes de bancos e empresários são compatíveis com a função de ministro e em momento algum, como atestam os testemunhos, foram o fórum para discutir empréstimos. Todos os depoimentos confirmam a legalidade dos encontros e também são uníssonos em comprovar que, até fevereiro de 2004, eu acumulava a função de ministro da articulação política. Portanto, por dever do ofício, me reunia com as lideranças parlamentares e partidárias para discutir exclusivamente temas de importância do governo tanto na Câmara quanto no Senado, além da relação com os estados e municípios.

Sem provas, o que o Ministério Público fez e a maioria do Supremo acatou foi recorrer às atribuições do cargo para me acusar e me condenar como mentor do esquema financeiro. Fui condenado por ser ministro.

Fica provado ainda que nunca tive qualquer relação com o senhor Marcos Valério. As quebras de meus sigilos fiscal, bancário e telefônico apontam que não há qualquer relação com o publicitário.

Teorias e decisões que se curvam à sede por condenações, sem garantir a presunção da inocência ou a análise mais rigorosa das provas produzidas pela defesa, violam o Estado Democrático de Direito.

O que está em jogo são as liberdades e garantias individuais. Temo que as premissas usadas neste julgamento, criando uma nova jurisprudência na Suprema Corte brasileira, sirvam de norte para a condenação de outros réus inocentes país afora. A minha geração, que lutou pela democracia e foi vítima dos tribunais de exceção, especialmente após o Ato Institucional número 5, sabe o valor da luta travada para se erguer os pilares da nossa atual democracia. Condenar sem provas não cabe em uma democracia soberana.

Vou continuar minha luta para provar minha inocência, mas sobretudo para assegurar que garantias tão valiosas ao Estado Democrático de Direito não se percam em nosso país. Os autos falam por si. Qualquer consulta às suas milhares de páginas, hoje ou amanhã, irá comprovar a inocência que me foi negada neste julgamento.

São Paulo, 22 de outubro de 2012

José Dirceu

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Jornal da Tarde já era.


Datafolha: Haddad lidera com 47%; Serra tem 37%


publicado em 10 de outubro de 2012 às 19:35

do UOL
DE SÃO PAULO
O candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, aparece dez pontos à frente de José Serra (PSDB) na primeira pesquisa Datafolha realizada sobre a disputa no segundo turno na cidade.
Haddad aparece com 47% das intenções de voto, contra 37% de Serra. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
O levantamento aponta ainda que 8% do eleitorado ainda não sabem em quem vai votar no dia 28, data em que voltarão às urnas para escolher o novo prefeito. Brancos, nulos e eleitores que afirmam que não votarão em nenhum também somam 8%.
Considerando apenas os votos válidos –quando são excluídos brancos, nulos e, no caso da pesquisa, também eleitores indecisos–, a vantagem é ainda maior: Haddad tem 56% e Serra aparece com 44%.
No primeiro turno, Serra foi o mais votado, com 30,75% dos votos válidos, enquanto Haddad obteve 28,98% dos votos.
Agora, no segundo turno, embora com um período de campanha mais curto, os candidatos terão mais tempo na TV e no rádio. Cada candidato terá 20 minutos diários divididos em dois blocos do programa eleitoral.
Em São Paulo, as propagadas dos candidatos voltarão a ser veiculadas na próxima segunda-feira (15).
A pesquisa foi realizada entre ontem e hoje e ouviu 2.090 pessoas e está registrada no Tribunal Regional Eleitoral com o número SP-01851/2012