“Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”
Luís Fernando Veríssimo

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Dória está vendendo São Paulo, por Jornalistas Livres

Dória está vendendo São Paulo
Um vídeo publicado no site da prefeitura de São Paulo anuncia: “com orgulho, o maior programa de privatização da história” da cidade. Criado para atrair investidores estrangeiros e totalmente narrado em inglês, o vídeo pretende mostrar São Paulo como uma cidade moderna - se servindo de uma imagem da ciclovia da Av. Paulista -, cosmopolita e acolhedora a estrangeiros - apesar de mostrar nesse trecho apenas uma mulher supostamente libanesa, um homem asiático e um caucasiano, esquecendo-se dos imigrantes e refugiados do Oriente Médio, África e América Latina e Central -, onde estão 50% dos bilionários do Brasil, e oferece de bandeja uma gama de estruturas públicas municipais para livre uso da iniciativa privada.
O título do vídeo é “Road Show São Paulo”. O termo Road Show é comum em vídeos de empresas que estão abrindo suas ações no mercado, numa manobra conhecida como IPO (Initial Public Offering). Uma busca por “IPO RoadShow” no youtube traz diversos resultados do gênero.
Por volta do meio dia de hoje (14/Fev), Dória postou na sua página do Facebook um vídeo onde ele conta que acabou de sair de uma reunião com dirigentes da Investment Corporation of Dubai e da Dubai Chamber. Segundo ele “os investidores internacionais estão muito otimistas”. As postagens da página nos últimos dias têm mostrado o prefeito com investidores em eventos em Abu Dhabi. Segundo consta na reportagem oficial da prefeitura, "O evento marcou o lançamento internacional do pacote de desestatização" e nele, Dória também falou sobre o projeto Cidade Linda.
Eis o que o vídeo coloca à venda:
A narração do vídeo informa que a cidade está aberta para negócios envolvendo o Autódromo de Interlagos, o Complexo do Anhembi incluindo o sambódromo e o Estádio do Pacaembu. Disponibiliza para gerência e operação e uso publicitário para o Parque do Ibirapuera, o Mercado Municipal, os terminais de ônibus e trem da cidade e até os cemitérios e crematórios municipais. Tudo com imagens grandiosas e detalhes em relação à frequência de público nesses espaços. São anunciados para venda também propriedades da prefeitura em lugares estratégicos, o que é ilustrado com imagens aéreas do centro da cidade.
Um absurdo particular está na oferta de negócios envolvendo o Bilhete Único. O letreiro do vídeo diz: “Data Base and Cross Selling opportunities”, em português “Oportunidades com banco de dados e venda cruzada.”
Em relação ao banco de dados, a prefeitura está dizendo abertamente que vai fornecer os dados dos cidadãos que usam o Bilhete Único para empresas. São dados do uso do transporte público, que informam por onde cada cidadão circula e em que horário, que serão usados para fins de marketing e propaganda.
A oportunidade de venda cruzada, por sua vez, é também problemática. A estratégia consiste em associar a venda de um produto à de outro - comum em operadoras de internet que tentam a todo custo empurrar ao consumidor os seus “combos” com TV a cabo e telefone fixo. É isto que a prefeitura está tentando fazer com o bilhete único: entregá-lo à iniciativa privada para que se possa condicionar a venda de créditos ou do bilhete mensal à compra de outros produtos. Podemos imaginar, por exemplo, uma promoção em que se compre de maneira combinada créditos de telefone celular e do transporte, favorecendo a operadora de celular. Além de tudo, a estratégia é proibida pelo Código de Defesa do Consumidor (artigo 39, I).
A invasão de privacidade e o uso pelo mercado de um serviço público essencial com o transporte são de uma crueldade infelizmente imaginável para um prefeito como Dória, que não se diz político mas gestor. Ele só esqueceu de dizer na campanha que era em favor das empresas que ele faria sua gestão, e não da população.
Prova disso é que, ao final do vídeo, o narrador afirma que há “legal certainty”, ou seja, asseguramento jurídico para os investidores dentro deste programa de privatização. Isso pode significar que se os investimentos que forem feitos não tiverem o lucro projetado, a prefeitura estaria disposta a bancar. com o dinheiro público dos impostos, o retorno, e ainda que as instituições legais estariam ao lado dos empreendimentos em detrimento das normas que regem a economia brasileira. Esta garantia da prefeitura não está na lei, mas o programa de privatização anuncia pretender incluí-lo.
Sem discutir com a população, sem permissão da câmara municipal e sem base legal para o seu “asseguramento jurídico”, Dória está colocando São Paulo na xepa da feira.
Assista ao vídeo:

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Até sempre. dona Marisa!, por Maria Inês Nassif

Até sempre. dona Marisa!, por Maria Inês Nassif
Não sei se um coração chora, mas a tristeza hoje é tanta que se torna lágrima, uma chuva de lágrimas, uma tempestade. É uma ventania da tristeza que atravessa o país, no momento em que Marisa Letícia, morta, ainda não conseguiu morrer de fato. O seu cérebro cansado foi antes, cheio de dor, de sangue, de mágoas. Calou-a. Não fosse o cansaço, talvez ainda ela pudesse dar um sorriso, dizer um palavrão, contar uma história, proteger a prole; e ameaçar inimigos com a promessa de cuidar do marido para que ele, forte por seu cuidado, os enfrente de peito aberto. O último sopro de vida de Marisa Letícia se foi. Os aparelhos ainda seguram os tique-taques do coração, por pouco tempo. Mas o tique-taque não é mais a vida de Marisa Letícia.
Em dezembro, Marisa, num jantar entre amigos, fez um brinde realista: não a dias melhores, mas à força que deveríamos ter para enfrentar dias ainda mais negros. “Não serão dias fáceis”.  Minutos adiante, comentando a perseguição ao ex-presidente Lula, disse que os perseguidores não iriam conseguir matá-lo. Ela não deixaria. “Eu vou cuidar dele e ele vai morrer velhinho”. Uma profissão de amor e fé no marido.
Não serão dias fáceis os que nos esperam e Marisa Letícia não estará ao lado de seu companheiro. Mas terá deixado o seu recado: por piores que os dias sejam sem a sua presença, Lula deverá ter forças para lutar e vencer seus adversários. Ela cuidará disso, de onde estiver. E, mais tarde, conseguirá, de lá, brindar a nós, que ficamos para trás, e a dias melhores. Tintim, dona Marisa. A dias mais serenos, mais felizes e mais justos, que um dia virão. E que teríamos gostado de compartilhar com você.
http://jornalggn.com.br/noticia/ate-sempre-dona-marisa-por-maria-ines-nassif

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Quem matou Dona Marisa

Leandro Fortes: Todos sabemos os nomes, cargos, redações e togas de cada um dos responsáveis pela morte de Dona Marisa

NÃO HÁ DE SER INUTILMENTE
Por Leandro Fortes
A morte de Dona Marisa Letícia é o triunfo físico da narrativa de ódio reinaugurada pela direita brasileira, a partir da vitória eleitoral de Dilma Rousseff, em 2014, contra as forças reacionárias capitaneadas pela candidatura de Aécio Neves, do PSDB.
Em sua insana odisseia pela retomada do poder, ainda quando o TSE contabilizava os últimos votos das eleições presidenciais, Aécio e sua turma de mascarados se agregaram, não sem uma sinalização evidente, aos primeiros movimentos da Operação Lava Jato e com ela partiram, sob os auspícios do juiz Sergio Moro, para a guerra de tudo ou nada que se seguiu.
Foi esse conjunto de circunstâncias, tocado pela moenda de antipetismo e ódio de classe azeitada diuturnamente pela mídia, que minou a saúde de Dona Marisa, não sem antes submetê-la ao tormento da perseguição, do constrangimento, da humilhação pública, da invasão cruel e desumana de sua privacidade.
A perseguição ignóbil ao marido, Luiz Inácio Lula da Silva, aliada à permanente divulgação de boatos sobre os filhos, certamente contribuíram para que Dona Letícia, a discreta primeira-dama nascida na luta e na construção dos Partidos dos Trabalhadores, tivesse a saúde atingida.
Para atingir Lula, a quem não tiveram coragem de prender, o esgoto da mídia e seus serviçais da política envenenaram a nação com ódio, rancor e ressentimento, nem que para isso fosse preciso atingir a vida de toda a família do ex-presidente.
Nem que para isso fosse preciso levar à morte uma mulher digna, honesta e dedicada aos seus e ao País.
Não sem antes vazar as imagens de sua tomografia cerebral, como um troféu grotesco de certo jornalismo abjeto oferecido às hienas que dele se alimentam.
Todos sabemos os nomes, os cargos, as redações e as togas de cada um dos responsáveis pela morte de Dona Marisa.
Na hora certa, daremos o troco.
PS do Viomundo: Abaixo, frase de uma conversa pessoal entre mãe e filho, sem qualquer valor para a investigação, que foi vazada por “autoridades” com o único intuito de causar pressão psicológica e política em uma família. Nem a máfia faria melhor.
Dona Marisa
"-Devia enfiar essas panelas no c..."
Fábio Luiz 'Lulinha'
-... de bater panelas, deixa elas"